Cap. 22
A Visão das Almas Perdidas da Ásia


Muitos ocidentais preocupados com missões têm crescido ouvindo o refrão clássico: “Envie americanos.” Nunca pediram a eles para considerarem alternativas melhores, mais adequadas às mudanças geo-políticas. É duro para alguém me ouvir reinterpretando as histórias contadas pelos missionários ocidentais das dificuldades e de ministérios infrutíferos como indicadores de métodos antiquados e não apropriados.
Mas a maior barreira para a maioria dos norte-americanos é idéia de que alguém de algum outro lugar pode fazer melhor. Questões a respeito de nossos métodos e garantias para administração financeira, enquanto freqüentemente sinceras e bem intencionadas, as vezes emanam de um profundo poço de desconfiança e preconceito.
Em uma de minhas viagens para a Costa Oeste, fui convidado para me reunir com um comitê de uma igreja que sustentava 75 missionários americanos. Após compartilhar nossa visão para o apoio aos missionários nativos, o presidente do comitê disse, “Tem sido pedido a nós para sustentar missionários nacionais antes, mas não temos encontrado uma maneira satisfatória de manter esses nacionais sob controle seja com relação ao dinheiro que enviamos seja a respeito do trabalho que fazem.” Eu senti que ele falou no nome de todo o comitê.
Foi difícil esperar para responder. Esta polêmica sobre auditoria, responsabilidade fiscal é uma das objeções mais freqüentemente levantadas a respeito do sustento dos missionários nativos no Terceiro Mundo, e eu posso entender por que. Na verdade, concordo que seja extremamente importante que haja contabilidade e transparência em cada área do ministério. A excelência na mordomia demanda isto.
Então eu detalhei como nós lidamos com o assunto.
“A fim de manter as pessoas responsáveis precisamos de alguma norma pela qual possamos medir seu desempenho,” eu disse. “Mas que critério deveríamos usar? Submeter nossos missionários a uma auditoria anual independente poderia ser adequada para verificar se eles utilizaram sabiamente o dinheiro?”
Eu levantei outras questões. “Quais critérios a respeito das igrejas que eles construíram ou sobre os projetos que eles empreenderam? Deveriam eles ser avaliados de acordo com os padrões e metas de alguma agência de missões ou de alguma denominação prescrita? Que tal as almas que eles ganharam e sobre os discípulos que fizeram? Teria qualquer denominação os critérios para avalia-los? Qual o critério para avaliar seu estilo de vida no campo missionário ou os frutos que eles produziram? Qual destas categorias deveriam ser usadas para saber se esses missionários são responsáveis?”
Aqueles que tinham se reclinado nas poltronas agora estavam inclinados sobre a mesa. Eu tinha lançado o fundamento de uma idéia que tinha certeza, eles nunca tinham levado em consideração antes, Eu continuei: “Vocês pedem conta dos missionários americanos que vocês enviam para o exterior? Qual o critério que vocês usaram no passado para auditar as centenas de milhares de dólares investidos através dos missionários que vocês têm mantido até agora?”
Olhei para o presidente por uma resposta. Ele balbuciou algumas poucas frases antes de admitir que eles nunca tinham pensado em cobrar responsabilidades dos missionários americanos, isto nunca foi uma preocupação entre eles.
“O problema,” expliquei, “não é uma questão de confiabilidade mas de preconceito, desconfiança e sentimentos de superioridade. Estas são as razões que impedem o amor e o sustento para nossos irmãos no Terceiro Mundo que estão trabalhando para ganhar seu próprio povo para Cristo.” Continuei então com a seguinte ilustração:
“Três meses atrás viajei para a Ásia para visitar alguns dos irmãos que nós apoiamos. Em um país encontrei um missionário americano que por quatorze anos desenvolve alguns programas sociais para sua denominação. Ele veio para este país esperando estabelecer o centro de sua missão, e ele foi bem sucedido. Enquanto eu andava dentro do perímetro da missão passei por um homem com uma arma, sentado no portão. O conjunto era cercado por um certo número de edifícios com pelo menos meia dúzia de carros importados. Os funcionários estavam usando roupas ocidentais, e uma criada estava cuidando de um dos filhos do missionário. A cena lembrava-me de um rei vivendo em um palácio com sua corte de vassalos cuidando de cada uma de suas necessidades. Durante 18 anos de viagens tenho visto esta cena repetida muitas vezes.
“De conversas com alguns dos missionários nativos,” continuei, “vim a saber que este americano e seus colegas realmente vivia parecendo reis com seus servos e carros. Eles não tinham nenhum contato com o pobre nas vilas circunvizinhas. O dinheiro de Deus é investido em missionários como este que gozam um estilo de vida que eles não poderiam manter nos Estados Unidos – um estilo de vida de rico, separado pela economia e distância dos missionários nativos que andam de pé descalço, pobremente vestidos mesmo para os nossos padrões asiáticos e algumas vezes por dias sem comer. Estes nacionais, em minha opinião, são os verdadeiros soldados da cruz. Cada um dos irmãos que nós sustentamos têm estabelecido uma igreja em menos de doze meses, e alguns tem começado mais de vinte igrejas em três anos.”
Eu contei de outro incidente em meu próprio país, a Índia. Apesar da Índia estar fechada para novos missionários, alguns missionários ocidentais ainda vivem lá desde a muito tempo, e algumas denominações conseguem a entrada de uns poucos e novos profissionais, tais como médicos e professores. Visitei um dos hospitais missionários na Índia onde alguns destes médicos missionários e seus colegas trabalhavam. Todos vivem em mansões ricamente mobiliadas. Um tem 12 servos para cuidar dele e de sua família: um para cuidar do jardim, outro para cuidar do carro, outro para cuidar da criança, dois para cozinhar em sua cozinha, um para cuidar das roupas da família, e assim por diante. E em oito anos este missionário não ganhou ninguém para Jesus nem estabeleceu uma única igreja.
“Qual o critério?” eu ousei perguntar, “foi usado pelas duas denominações que enviaram estes homens para avaliação de seus resultados?
“Por outro lado,” continuei, “existe um hospital que custou milhões para ser construído e outros milhões para manter o grupo de funcionários com europeus e americanos. Em 75 anos, nenhuma igreja viva neo-testamentária foi estabelecida ali. Alguém já pediu por uma auditoria em um trabalho tão infrutífero?
“Estas ilustrações não são exemplos isolados,” assegurei para minha audiência. “Durante meus 18 anos de viagens através da Ásia tenho visto missionários ocidentais vivendo consistentemente num nível econômico muitas vezes acima do povo entre os quais eles trabalham. E os nacionais trabalhando com eles são tratados como servos e vivem em pobreza enquanto estes missionários aproveitam a luxúria da vida.”
Eu contrastei estes exemplos com aqueles que os nacionais estão fazendo.
“Lembram-se da ilustração do hospital multimilionário em dólares e nenhuma igreja?” Eu perguntei. “Bem, quatro anos atrás nós começamos apoiando um missionário nativo e 30 obreiros que tinham começado uma missão somente a poucas milhas do hospital. Seu grupo cresceu tendo agora 349 obreiros, e centenas de igrejas têm sido plantadas. Outro missionário nativo, um de seus obreiros, estabeleceu mais de 30 igrejas em três anos. Onde vivem estes irmãos? Em cabanas exatamente como o povo com quem eles trabalham. Eu poderia dar a vocês centenas de histórias que ilustram o fruto de vidas dedicadas. É como o Livro de Atos sendo escrito mais uma vez.
“Vocês estão procurando fazer uma auditoria dos missionários nativos, auditoria que é requerida de vocês para dar recursos a eles? Lembrem-se do que Jesus disse, ‘Porquanto veio João, não comendo nem bebendo, e dizem: Tem demônio. Veio o Filho do homem, comendo e bebendo, e dizem: Eis aí um comilão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores. Entretanto a sabedoria é justificada pelas suas obras.’ (Mateus 11:18-19).
“O fruto”, indiquei, “é o teste real. ‘... pelos seus frutos os conhecereis,’ disse Jesus (Mateus 7:20). Paulo falou a Timóteo que considerasse duas coisas em sua vida. E estas duas coisas, acredito, são o critério Bíblico para a prestação de contas. Ele falou a Timóteo para tomar cuidado de sua própria vida e cuidar do ministério com o qual estava comprometido. A vida do missionário é o meio de sua mensagem.”
Três horas tinham se passado, e ainda a sala permanecia silenciosa. Eu senti que tinha permissão para continuar.
“Vocês pediram-me para lhes dar um método de como nosso missionário nativo possa prestar contas. Além das questões que tenho levantado, Gospel for Asia realmente tem procedimentos definidos para assegurar que sejamos bons mordomos do dinheiro e das oportunidades que o Senhor nos apresenta. Mas nossos métodos e condições refletem uma perspectiva e um modo diferente de se fazer missões.
“Primeiro, Gospel for Asia, assume que nós, os que somos chamados, somos chamados para servir e não para ser servidos. Nós andamos diante de milhões de pobres e destituídos na Ásia com nossas vidas como um testemunho aberto e um exemplo. Eu respiro, durmo e me alimento consciente de milhões perecendo aos quais o Senhor me manda amar e resgatar.”
Então explanei como Deus está alcançando o perdido, não através de programas mas através de indivíduos cujas vidas são tão comprometidas com Ele que Ele as usa como vasos para ungir o mundo perdido. Então damos total prioridade em saber como os missionários vivem. Quando começamos a sustentar um irmão, ele morava em dois quartos pequenos com piso de cimento. Ele, sua esposa e quatro crianças dormiam sobre um tapete no chão.
Isto foi a quatro anos atrás. Numa recente visita a Índia eu o vi vivendo no mesmo lugar, dormindo sobre o mesmo tapete mesmo após seu grupo ter crescido de 30 para 349 membros. Ele lida com centenas de milhares de dólares para manter este enorme ministério funcionando, contudo seu estilo de vida não mudou. Os irmãos que ele trouxe para o ministério estão dispostos a morrer por amor a Cristo porque eles viram seu líder viver para Cristo justamente como o apóstolo Paulo fez.
“No Ocidente, as pessoas olham para homens com poder e riqueza. Na Ásia nosso povo olha para homens como Gandhi que, para inspirar um seguidor, estava disposto a renunciar a tudo para tornar-se como o último dos pobres. A prestação de contas começa com a vida do missionário.”
O segundo critério que consideramos,” expliquei, é a sua vida frutífera. Nosso investimento financeiro se vê nos resultados de vidas transformadas e em igrejas estabelecidas. Que maior confiabilidade podemos requerer?”
Quando os missionários ocidentais vão para os países do Terceiro Mundo, eles são capazes de encontrar nacionais para segui-los. Mas esses nacionais com demasiada freqüência são enquadrados em distintivos denominacionais. Tal qual produz tal qual. Missionários líderes de denominações que voam para estes países e vivem em hotéis cinco estrelas atrairão para si mesmos os então chamados líderes nacionais que são iguais a eles. Então, infelizmente, são estes, chamados líderes nacionais, que são acusados de gastar ou de mau utilizar as grandes quantidades de dinheiro, enquanto, na verdade, eles meramente seguiram o exemplo dados pelos seus semelhantes do ocidente.”
Novamente me dirigi ao presidente: “Você tem estudado a vida e o ministério dos missionários americanos que você sustenta? Eu acredito que você descobrirá que bem poucos deles estão diretamente envolvidos em pregar a Cristo, mas estão fazendo algum tipo de trabalho social. Se você aplicar os princípios Bíblicos que tenho esboçado, duvido que você sustentaria mais do que apenas um punhado deles.”
Então voltei-me e pedi ao comitê de membros que avaliassem a si mesmos. “Se sua vida não está totalmente comprometida com Cristo, você não está qualificado para fazer parte deste comitê. O que significa que você não pode usar seu tempo, seus talentos ou seu dinheiro da maneira que você quer. Se for assim, e ainda pensar que pode ajudar a direcionar o povo de Deus a alcançar os perdidos do mundo, você está escarnecendo do próprio Deus. Você tem de avaliar como gasta cada dólar e tudo o mais que você faz à luz da eternidade. O modo de cada um de vocês viverem é onde começamos nossa cruzada para alcançar os perdidos deste mundo.”
Fiquei grato a Deus por ver que o Senhor falou a muitos deles. Houve lágrimas e a consciência da presença de Cristo entre nós. Tinha sido um tempo doloroso para mim, e fiquei contente quando a reunião se encerrou. Mas eu necessitava ser fiel ao chamado de Deus para a minha vida para compartilhar a visão das almas perdidas da Ásia com os irmãos cristãos ricos do ocidente que têm consigo o poder de ajuda-los.

Fonte: "Revolution in World Missions"
Autor: Dr. K.P. Yohannan
Tradução: Hermann & JeffQuevedo

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