Cap. 21
Enfrentando Provações

Ele sorriu gentilmente para mim atrás da sua grande e polida escrivaninha. Eu estava realmente impressionado. Este homem liderava um dos grandes ministérios na América, alguém a quem tinha admirado por anos. Um grande pregador, autor e líder, que tinha um grande número de seguidores, tanto entre clérigos quanto entre o povo leigo.
Ele tinha me enviado uma passagem aérea e me convidado para voar através do país para um encontro com ele visando aconselhamento para expandir seu trabalho na Índia. Eu estava lisonjeado. Seu interesse na GFA e no movimento de missionários nativos agradaram-me muito mais do que eu podia acreditar. A partir do primeiro instante em que ele me falou, senti que este homem poderia ser um valioso amigo para nós de muitas maneiras. Talvez ele pudesse abrir portas e ajudar-nos a conseguir mantenedores para algumas das centenas dos missionários nativos esperando por nosso apoio.
Mas eu não estava pronto para a oferta generosa que ele fez – uma que se que tornaria a primeira das muitas provações para mim e para nossa missão.
“Irmão K.P.,” ele disse lentamente, “poderia considerar a idéia de abrir mão do que está fazendo aqui nos Estados Unidos e voltar para a Índia como nosso representante especial? Nós cremos que Deus está chamando você para trabalhar conosco – levar a mensagem de nossa igreja de volta para o povo da Índia. Nós o apoiaremos em 100 por cento.”
“Em todas as suas necessidades,” ele continuou sem pausa para respirar. “Nós lhe daremos uma gráfica, vans e literatura. Estamos preparados para fornecer a você todos os recursos, muitas vezes mais do que o que consegue levantar por si mesmo.”
Era uma oferta excitante. Então ele se fez ouvir mais doce ainda. “Você pode se desfazer de todas essas viagens, e levantamento de dinheiro. Não terá necessidade de um escritório e funcionários nos Estados Unidos. Nós faremos tudo por você. Você quer estar na Ásia, não quer? Que é onde o trabalho está – então nós estamos deixando você livre para voltar e desenvolver a obra lá.”
Debilitado pelo pensamento de ter tantas das minhas orações atendidas de uma só vez deixei minha mente jogar com as possibilidades. Esta poderia ser a maior resposta a oração que já tivemos, pensei. Enquanto falávamos, meus olhos inconscientemente vagou através da escrivaninha para um álbum de seus tapes de ensino mais vendidos. Eles eram bem feitos, uma série de algumas edições polêmicas que estavam sendo divulgados por todo os Estados Unidos naquela época. Eles eram, contudo, irrelevantes às nossas necessidades e problemas na Ásia.
Vendo o que parecia ser meu interesse nas fitas cassetes ele falou com um rompante de autoconfiança. “Nós começaremos com estes tapes,” disse, dando-os a mim. “ Eu darei o suporte que você precisa para produzi-los na Índia. Nós podemos mesmo traduzi-los para os idiomas mais importantes. Nós produziremos milhões de cópias e colocaremos esta mensagem nas mãos de cada crente indiano.”
Eu já ouvira outros homens com a mesma idéia selvagem. Os tapes seriam inúteis para nós na Índia. Milhões estavam indo para o inferno lá; eles não precisavam da mensagem deste homem na Índia. Apesar de achar a idéia dele uma insanidade, tentei ser cortês.
“Bem,” tentei acanhadamente, “deve haver algum material aqui que poderíamos adaptar para a Índia e imprimi-lo como folheto.”
Subitamente sua face gelou. Senti que eu tinha dito alguma coisa errada.
“Oh, não,” disse ele com um ar de teimosia, “Eu não posso mudar uma palavra. Esta é a mensagem que Deus me deu. É parte do que somos. Se não é um problema na Índia agora, brevemente será. Nós precisamos que você nos ajude a proclamar esta palavra em toda a Ásia.”
Em um momento, este basicamente um bom homem de Deus tinha se mostrado em suas cores reais. Seu coração não estava queimando de paixão pelos perdidos – ou pelas igrejas da Ásia. Ele tinha um machado para cortar, e achava que tinha dinheiro para me contratar para brandi-lo por ele no estrangeiro. Era a mesma velha história – um caso de neocolonialismo religioso.
Aqui estava eu, face a face com o orgulho e a carne em todo o seu horror. Eu admirava e gostava deste homem e seu ministério, mas ele tinha somente um problema. Ele acreditava, como muitos antes dele que, se Deus estava fazendo alguma coisa no mundo, Ele o faria através dele.
O mais rápido que pude, me desculpei educadamente e nunca mais voltamos a nos falar. Ele estava vivendo em um mundo do passado, nos dias das missões coloniais quando denominações ocidentais podiam exportar e vender suas doutrinas e programas para as igrejas emergentes da Ásia.
O corpo de Cristo na Ásia possui um enorme débito para com os maravilhosos missionários que vieram nos séculos 19 e 20. Eles trouxeram o Evangelho para nós e plantaram a Igreja. Mas a Igreja agora precisa ser livre da dominação ocidental.
Minha mensagem para o ocidente é simples: Deus está chamando cristãos em todo o lugar para reconhecer que Ele está construindo sua igreja na Ásia. Nosso sustento é necessário para os missionários nativos a quem Deus está levantando para expandir Sua igreja – mas não para impor controle e ensinamentos humanos às igrejas do oriente.
A missão Gospel for Asia enfrentou outros testes. Talvez o maior deles veio de um outro grupo que também permanecerá não identificado. Desta vez envolvia a maior doação jamais oferecida a nós.
Nossa amizade e amor pelos membros deste grupo tinham se desenvolvido através dos últimos anos. Vimos Deus fazer nascer em seus corações um anseio de ver o Evangelho do Senhor Jesus pregado em uma demonstração do poder de Deus através do mundo. Deus deu-lhes o desejo de estar envolvidos equipando pastores e evangelistas nativos, e eles tinham ajudado a GFA financeiramente com os projetos nos últimos anos.
Uma vez, numa oportunidade, levei uma delegação de quatro daqueles irmãos americanos numa viagem pela Índia. Eles encontraram alguns dos nossos missionários nativos, e pude constatar que eles foram significativamente desafiados e profundamente tocados pelas vidas dos evangelistas indianos. Quando retornamos, cartas de agradecimento aguardavam por mim, e dois homens se ofereceram para o sustento de um missionário nativo. Este gesto me surpreendeu porque estes mesmos homens também estavam votando para dar-nos sustento financeiro para outros projetos. Isto convenceu-me de que eles realmente creram na obra dos irmãos nativos – o bastante para estar pessoalmente envolvidos além dos deveres oficiais como administradores. Imaginem como gritei e dancei no meu escritório quando recebi outro telefonema do presidente deste comitê duas semanas depois. Eles decidiram, disse ele, nos dar uma grande soma de sua verba missionária! Eu mal podia imaginar uma doação daquele tamanho. Quando desliguei o telefone, os funcionários no nosso escritório achavam que eu tinha enlouquecido. De fato, em minha mente eu já tinha gasto aquele dinheiro. A primeira parte iria, pensava, para começar um instituto missionário de treinamento intensivo para novos missionários.
Talvez por causa disso é que aconteceu em seguida foi como um estouro. Enquanto os membros do comitê discutiam o projeto entre eles, surgiram questões a respeito de auditoria e controle. Eles me ligaram, expressando que a única maneira do comitê concordar em sustentar o projeto seria por um representante de sua organização no comitê de administração do instituto na Índia. Afinal, disseram eles, aquela grande quantia de dinheiro realmente não poderia ser liberada “sem nenhuma corda amarrada”.
Tal pedido penetrou meu coração como uma faca. Foi uma grande surpresa. Através de todos aqueles anos, pessoalmente sempre tinha me recusado a compor qualquer comitê de missões nativas que sustentamos na Ásia. Nós sempre damos a nossa ajuda sem demandar o controle de um ministério local. Para sugerir que um estrangeiro se sente no comitê deste novo trabalho nativo seria trair meus irmãos e coloca-los novamente sob a opressão de homens.
Respirando fundo e pedindo pela ajuda do Senhor, eu tentei explicar a filosofia da nossa missão GFA.
“Nossos líderes além-mar jejuam e oram a respeito de cada decisão,” eu disse. “Nós não temos que nos sentar em suas reuniões para proteger o nosso dinheiro. Não é nosso dinheiro, de qualquer maneira, ele pertence a Deus. Ele é maior do que a GFA e a sua organização. Deixe Deus proteger seus próprios interesses. Os irmãos nativos não precisam nem de você ou de mim para lidera-los. Jesus é o Senhor deles, e Ele os guiará no uso correto do dinheiro.”
O silêncio no outro lado da linha foi longo.
“Sinto muito, Irmão K.P.,” disse o diretor finalmente. “ Eu não acho que consigo passar esta idéia para o nosso comitê de diretores. Eles querem a contabilidade pelo dinheiro. Como eles podem ter a prestação de contas sem colocarem um homem na administração? Seja razoável. Você está tornando isto difícil para nós podermos ajudar. Esta é a política padronizada para uma doação deste tamanho.”
Minha mente acelerou. Uma pequena voz me disse, “Vá em frente, tudo o que eles querem é um inútil pedaço de papel. Não faça uma questão a respeito disso. Afinal, esta é a maior verba que você já recebeu. Ninguém dá tanto dinheiro sem qualquer controle. Deixe de ser tolo”.
Mas eu sabia que eu não podia consentir com tal proposta. Eu não poderia encarar meus irmãos asiáticos e dizer que a fim de conseguir este dinheiro, eles teriam um americano voando através de meio mundo para aprovar como eles deveriam gasta-lo.
“Não,” disse, “nós não podemos aceitar seu dinheiro se isto significa comprometer a pureza de nosso ministério. Nós temos plena responsabilidade através de homens de Deus confiáveis que têm sido designados para os comitês nativos. Depois, você pode ver o edifício por si mesmo quando for à Ásia. Não posso comprometer a autonomia do trabalho colocando um americano na diretoria nativa. O que você está sugestionando é que você quer “segurar a arca” como Uzá o fez no Velho Testamento. Deus o matou porque presumiu controlar o trabalho de Deus. Quando o Espírito Santo se move e faz a obra dEle, nós nos tornamos inquietos porque queremos controla-lo. É uma fraqueza inerente da carne. O final de sua oferta é controlar o trabalho na Ásia com rédeas curtas presas à sua doação. Você tem de aprender a deixar o seu dinheiro ir, porque não é seu dinheiro mas de Deus.”
Então, com o coração na minha boca, dei-lhe um último argumento, esperando poder salvar a oferta – mas disposto a perder tudo se eu fosse incapaz de convence-los.
“Irmão,” disse baixinho, “Eu assino centenas de cheques de milhares de dólares e os envio para o campo a cada mês. Muitas vezes quando seguro aqueles grandes cheques em minha mão, eu oro, “Senhor, este é o Seu dinheiro. Sou apenas um mordomo enviando onde o Senhor disse que deveria ir. Ajude os líderes no campo a usar este dinheiro para ganhar os milhões de perdidos e glorificar o nome de Jesus.” Todos nós devemos nos preocupar a respeito de estarmos fazendo nossa parte. Eu obedeço ao Espírito Santo em distribuir o dinheiro do Senhor. Não me peça para pedir aos irmãos nativos a fazer algo que eu não faria.”
Fiz uma pausa. O que mais poderia dizer?
“Bem,” a voz do outro lado repetiu, “realmente queremos ajudar. Farei uma apresentação, mas você está tornando isto muito difícil para mim.”
“Tenho certeza,” afirmei com convicção, “que existem outras organizações que cumpririam suas exigências. Sei apenas que não podemos aceita-las. Comunhão no Evangelho é uma coisa – mas o controle externo é antibíblico e ao final causa mais prejuízo ao trabalho do que o ajuda.”
Eu disse com convicção, mas por dentro eu estava certo de ter perdido a verba. Nada mais havia a dizer exceto adeus.
Duas semanas se passaram sem um telefonema. Cada dia eu orava a Deus para ajudar o comitê inteiro de diretores a entender. Em nosso círculo interno – pessoas que sabiam a respeito da doação esperada – perguntavam-me freqüentemente se tinha alguma novidade. Todo o nosso grupo de funcionários estava orando.
“Estávamos andando no caminho estreito,” eu disse corajosamente para o nosso grupo, “fazendo o que Deus nos mandou.” Dentro de mim, desejava que Deus me deixasse quebrar um pouco as regras desta vez.
Mas Deus honrou nossa fidelidade. Um dia o telefone tocou, e era o diretor novamente. O comitê tinha se reunido na noite anterior, e ele tinha apresentado minha posição para eles.
“Irmão K.P.,” disse ele com um sorriso em sua voz, “nós nos reunimos e discutimos o projeto exaustivamente. Compartilhei a importância da autonomia dos irmãos nacionais. Eles votaram unanimemente para ir em frente e patrocinar o projeto sem qualquer intervenção.”
Não há garantias que você terá sempre um tipo de final feliz quando você toma a atitude correta. Mas não importa. Deus nos chamou para estar aqui no ocidente, desafiando as pessoas ricas deste mundo para dividir com aqueles mais desesperadamente necessitados de tudo.
Deus está chamando cristãos no ocidente para reconhecer que ele está edificando Sua Igreja cuidadosamente, compartilhando e salvando no confins do mundo almas agonizantes. Ele está usando muitos norte-americanos que se preocupam com os perdidos compartilhando neste novo movimento pelo patrocínio dos líderes missionários nativos que Ele chamou para dirigi-lo.
Deus está chamando o Corpo de Cristo no rico ocidente para renunciar sua atitude orgulhosa e arrogante de “nosso modo é o único modo” e compartilhar com aqueles que morrerão em pecado a menos que a ajuda seja enviada agora das nações mais ricas. O ocidente deve dividir com o oriente, sabendo o que Jesus disse, “Em verdade vos digo que, sempre que o fizestes a um destes meus irmãos, mesmo dos mais pequeninos, a mim o fizestes.” (Mateus 25:40).
Tem os missionários nativos cometido erros? Sim, e seria uma mordomia pouco inteligente enviar nosso dinheiro livremente alhures sem conhecimento da honestidade e integridade de qualquer ministério. Mas isso não significa que não devemos ajudar o movimento dos missionários nativos.
A América do Norte está numa encruzilhada. Podemos endurecer os nossos corações às necessidades do Terceiro Mundo – continuando na arrogância, orgulho e egoísmo – ou podemos nos arrepender e nos mover com o Espírito de Deus. Qualquer que seja o nosso caminho, as leis de Deus continuarão atuando. Se nós fecharmos nossos corações para os perdidos do mundo que estão morrendo e indo para o inferno, nós convidamos o julgamento de Deus e a mais certa ruína de nossa abundância. Mas, se nós abrirmos nossos corações e dividirmos, será o começo de novas bênçãos e restauração.
Eis o porque acredito que a resposta dos crentes norte-americanos é crucial. Esse clamor do meu coração é mais do que uma questão de missões que pode ser desprezada como um apelo qualquer ou como um convite para banquete. A resposta para as necessidades dos perdidos no mundo está diretamente ligada a crenças espirituais e bem-estar de cada crente. Enquanto isso, os irmãos desconhecidos da Ásia continuam levantando suas mãos a Deus em oração, pedindo a Ele para suprir suas necessidades. Eles são homens e mulheres do mais alto calibre. Eles não podem ser comprados. Muitos têm desenvolvido uma devoção a Deus que os faz odiar a idéia de tornar-se servos de homens e instituições religiosas por lucro.
Eles são os verdadeiros irmãos de Cristo a respeito dos quais a Bíblia fala, andando de aldeia em aldeia enfrentando espancamentos e perseguições para levar Cristo para os animistas, Budistas, comunistas, Hindus, Muçulmanos e muitos outros povos que ainda não receberam as boas novas de Seu amor.
Sem medo dos homens eles estão dispostos, como seu Senhor, a viver como Ele viveu – dormindo à beira das estradas, andando famintos e mesmo morrendo a fim de compartilhar sua fé. Eles vão mesmo quando dizem a eles que o recurso previsto para sua missão acabou. Eles estão determinados a pregar mesmo sabendo que isto significará sofrimento. Por quê? Porque eles amam as almas perdidas que estão morrendo diariamente sem Cristo. Eles estão ocupados demais em fazer a vontade de Deus para envolver-se em política de igrejas, em reunião de comitês, campanhas para levantamento de recursos, e esforços de relações públicas.
É o mais alto privilégio dos cristãos ricos do ocidente compartilhar em seus ministérios enviando ajuda financeira. Se nós não cuidarmos o bastante para patrocina-los – se nós não obedecermos ao amor de Cristo e enviar-lhes o sustento – nós estamos dividindo a responsabilidade por aqueles que vão para as chamas eternas sem jamais ter ouvido do amor de Deus. Se os evangelistas nativos não podem ir porque ninguém os enviou, a vergonha pertence ao Corpo de Cristo aqui porque tem os recursos para ajuda-los. E se tais recursos não são dados ao Senhor, eles rapidamente desaparecerão. Se a igreja do ocidente não for uma luz para o mundo, o Senhor tomará o seu castiçal.
Fingir que o pobre e o perdido não existem pode ser uma alternativa. Mas desviar os nossos olhos da verdade não eliminará nossa culpa. Gospel for Asia existe para relembrar aos cristãos ricos e prósperos, que existe um faminto, um necessitado, um mundo de pessoas perdidas lá fora a quem Jesus ama, e pelo qual Ele morreu. Você quer juntar-se a nós em nosso ministério por eles?

Fonte: "Revolution in World Missions"
Autor: Dr. K.P. Yohannan
Tradução: Hermann & JeffQuevedo

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