Cap. 18
Uma Visão Global


Será que todos os missionários ocidentais deveriam sair da Ásia para sempre? Claro que não. Deus ainda chama soberanamente missionários ocidentais para fazer tarefas únicas e especiais na Ásia. Mas devemos entender que o papel primário para os ocidentais agora deverá ser o de sustentar os esforços da obra missionária nativa através de ajuda financeira e oração intercessória.
Da forma mais gentil possível, eu digo aos norte-americanos que um preconceito anti-americano ainda está em alta na maior parte da Ásia. De fato, este é uma sessão que escrevo com grande temor e tremor – mas estas verdades devem ser ditas se estamos para cumprir a vontade de Deus nos campos missionários da Ásia hoje.
“Há momentos na história,” escreve Dennis E. Clark em O Terceiro Mundo e as Missões, “quando, ainda que por mais talentosa uma pessoa possa ser, ela não conseguirá efetivamente proclamar o Evangelho para aquelas de outras culturas. Um alemão não o teria feito na Inglaterra em 1941, ou um indiano no Paquistão durante a guerra de 1967, e seria extremamente difícil aos americanos faze-lo no Terceiro Mundo entre os anos 80 e 90.”
Pelo amor de Cristo – porque o amor de Jesus nos constrange – precisamos rever as políticas financeiras e de missões das nossas igrejas e agências missionárias norte-americanas. Cada crente deveria reconsiderar seu ou sua própria prática de mordomia e submeter-se à orientação do Espírito Santo em como sustentar mais e melhor missões estrangeiras da igreja.
Eu não estou pedindo pelo fim dos programas missionários denominacionais ou pelo fechamento de centenas de missões aqui na América do Norte – mas estou pedindo para reconsiderarmos as nossas políticas e práticas missionárias que tem nos guiado nos últimos duzentos anos. É tempo de fazer algumas mudanças básicas e lançarmos o maior movimento missionário da história – um que primariamente ajude os missionários evangelistas nativos ao invés do grupo Ocidental.
O princípio que argumento é o seguinte: Cremos que a maneira mais eficaz agora de ganharmos a Ásia para Cristo é através da oração e sustento financeiro para o exército de missionários nativos que Deus está levantando no Terceiro Mundo. Como regra geral, e pelas razões seguintes eu creio que é mais inteligente sustentar missionários nativos em seus próprios países do que enviar missionários ocidentais.
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Primeiro, é uma mordomia sábia. De acordo com Bob Granholm, ex-diretor executivo de Frontiers no Canadá, custa entre $25,000 a $30,000 por ano sustentar um missionário no campo de missões. Enquanto isso pode ser verdade para ministérios como Frontiers, Operação Mobilização, Jovens Com Uma Missão e poucas outras organizações, em minhas pesquisas com agências mais tradicionais, o custo pode ser muito mais alto. Uma organização missionáriaa estima que custa aproximadamente $ 80.000 em média por ano para manter um casal de missionários na Índia. Mesmo com uma modesta inflação de 3% este custo poderá atingir US $ 100.000, em menos de 10 anos.
Durante uma recente consultoria sobre evangelismo mundial, líderes missionários Ocidentais clamaram por 200.000 novos missionários para o ano 2000, a fim de enfrentar as estimativas de crescimento populacional. O custo de tão modesta força missionária poderia atingir a desconsertante quantia de $ 20 bilhões ao ano. Quando você imagina que em 1996 os crentes norte-americanos contribuíram com apenas $ 5.5 bilhões para missões, estamos encarando um esforço astronômico para levantamento de fundos. Deve haver uma alternativa.
Na Índia, apenas com o custo de um vôo para um americano entre Nova Iorque e Mumbai (Bombaim), um missionário nativo formado pode ser mantido no campo para ministrar durante anos! A menos que levemos estes fatos em conta, nós perderemos a oportunidade de em nossa era de alcançar incontáveis milhões com o Evangelho. Hoje é ultrajantemente extravagante enviar missionários norte-americanos ao exterior a menos que hajam razões prementes para faze-lo. A partir de um ponto de vista estritamente financeiro, enviar missionários americanos ao exterior é um dos piores investimentos que podemos fazer hoje.

Segundo, em muitos lugares a presença de missionários ocidentais perpetuam o mito de que o cristianismo é uma religião do ocidente. Bob Granholm afirma, “Enquanto a atual internacionalização da força tarefa missionária é um empreendimento muito corajoso, é naturalmente sábio não ter uma face ocidentalizada nos seus esforços de expansão do Reino.” Roland Allen diz melhor do que eu em seu clássico livro The Spontaneous Expansion of the Church (O Crescimento Espontâneo da Igreja):

Mesmo se o suprimento de homens e recursos das fontes do ocidente fossem ilimitadas, e pudéssemos cobrir todo o mundo com um exército de milhões de missionários estrangeiros e estabelecer postos abundantemente por todo o mundo, o método rapidamente revelaria sua fraqueza, como já está começando a revela-lo.
O mero fato de que o cristianismo fosse propagado por tal exército, estabelecido em postos estrangeiros sobre todo o mundo, inevitavelmente alienaria as populações nativas, que poderiam ver nisso o crescimento da denominação de um povo estrangeiro. Eles poderiam se sentir roubados em sua independência religiosa, e mais e mais temeriam a perda de sua independência social.
Os estrangeiros não podem nunca dirigir com sucesso a propagação de qualquer fé através de um país inteiro. Se a fé não se tornar naturalizada e a expandir por entre o povo pelo seu próprio poder vital, ela exerce uma alarmante e odiosa influência, e os homens a temem e a rejeitam, como algo alienado. Então é óbvio que nenhuma política missionária saudável pode ser baseada sobre a multiplicação de missionários e de agências missionárias. Mil podem não ser suficientes, uma dúzia pode ser demais.

Um amigo meu que lidera uma organização missionária similar à nossa recentemente contou-me a história de uma conversa sua com alguns líderes da igreja na África.
“Nós queremos evangelizar nosso povo,” eles disseram, “mas nós não conseguiremos enquanto os missionários brancos permanecerem. Nosso povo não nos ouvirá. Os comunistas e muçulmanos ensinam a eles que todos os missionários brancos são espiões enviados pelos seus países como agentes do imperialismo capitalista. Nós sabemos que isso não é verdade, mas repórteres nos jornais afirmam que alguns missionários são financiados pela CIA. Nós amamos os missionários americanos no Senhor. Nós desejamos que eles permaneçam aqui, mas nossa única esperança para podermos evangelizar nosso povo é que todos os missionários brancos saiam.”
Incontáveis milhões de dólares estão sendo gastos hoje por nossas denominações e missões enquanto eles levantam e protegem estruturas organizacionais no exterior. Houve um tempo quando foi necessária a ida de missionários ocidentais para aqueles países onde o Evangelho não era pregado. Mas agora uma nova era se inicia, e é importante que nós reconheçamos isso oficialmente. Deus tem convocado líderes nativos que estão mais habilitados para completar a obra do que os estrangeiros.
Agora nós devemos enviar a maior parte dos nossos recursos para os missionários nativos e igrejas em expansão. Mas isto não significa que não agradecemos o legado deixado para nós pelos missionários ocidentais. Enquanto eu creio que mudanças devem ser feitas em nossos métodos missionários, louvamos a Deus pela tremenda contribuição que os missionários ocidentais têm feito a muitos países do Terceiro Mundo onde Cristo nunca antes tinha sido anunciado. Através de sua fé muitos foram ganhos para Jesus, igrejas foram fundadas e as Escrituras foram traduzidas. Estes convertidos são hoje os missionários nativos.
Silas Fox, um Canadense que serviu no sul da Índia, aprendeu a falar Telugu, a língua nativa local e pregou a Palavra com tal unção que centenas dos líderes cristãos atuais locais podem traçar sua iniciação espiritual a partir deste ministro.
Eu louvo a Deus por missionários com Hudson Taylor, que contra todos os desejos de seu comitê de missões estrangeiras tornou-se um chinês em seu estilo de vida e ganhou muitos para Cristo. Eu não sou digno de soprar a poeira dos pés de milhares dos fervorosos homens e mulheres de fé que em seu tempo foram além dos mares em obediência ao nosso Senhor Jesus.
Jesus estabeleceu o exemplo para o trabalho missionário nativo. “...assim como o Pai me enviou,” Ele disse, “também eu vos envio a vós” (João 20:21). O senhor tornou-se um de nós para nos ganhar pelo amor de Deus. Ele sabia que ele não poderia ser um estranho vindo do espaço então ele tornou-se encarnado em nossos corpos.
Para qualquer missionário ser bem sucedido ele deve se identificar com as pessoas que ele planeja atingir. Porque os ocidentais geralmente não o conseguem, eles são ineficazes. Qualquer – asiático ou americano – que insista em ainda ir como um representante de missões e organizações ocidentais será ineficaz hoje. Nós não podemos manter uma aparência ou estilo de vida ocidental e trabalhar entre os pobres da Ásia.

Terceiro, os missionários ocidentais, e o dinheiro que eles trazem, comprometem o crescimento natural e a independência da igreja nacional. O poder econômico do dólar norte-americano distorce o quadro quando os missionários norte-americanos recrutam líderes nacionais para administrar suas organizações.
Recentemente encontrei-me com um missionário executivo de uma das maiores denominações dos EUA. Ele é um homem adorável a quem respeito profundamente como um irmão em Cristo, mas ele lidera uma extensão de sua denominação no estilo colonial na Ásia.
Nós conversamos a respeito sobre amigos mútuos e sobre o excitante crescimento que está ocorrendo nas igrejas nacionais da Índia. Nós compartilhamos muito no Senhor. Eu rapidamente descobri que ele tinha tanto respeito quanto eu pelos irmãos indianos que Deus estava usando para mudar a Índia na atualidade. Contudo ele não poderia sustentar aqueles homens que estava tão obviamente sendo ungidos por Deus.
Eu perguntei a ele o porquê? Sua denominação está gastando milhões de dólares anualmente para abrir suas igrejas na Ásia – um dinheiro que eu senti poderia ser melhor utilizado apoiando missionários nativos em cujas igrejas o Espírito Santo está espontaneamente fazendo nascer.
Sua resposta chocou-me e me entristeceu.
“Nossa política,” ele admitiu sem nenhuma vergonha, “é a utilização somente dos nacionais para expandir igrejas com nossos distintivos denominacionais.”
As palavras trovejaram em minha cabeça, “o uso de nacionais.” Isso é o que o colonialismo era, e também é, ainda, o que o neocolonialismo de muitas missões ocidentais tem tudo a ver. Com seu dinheiro e tecnologia, muitas organizações estão simplesmente comprando pessoas para perpetuar suas denominações, modos e crenças estrangeiras.
Na Tailândia um grupo de missionários nativos foi “comprado” por uma poderosa organização paraeclesiástica americana. Uma vez efetivamente ganhando seu próprio povo para Cristo e plantando igrejas pelo jeito Tailandês, seus líderes foram levados para serem treinados nos Estados Unidos. A organização americana lhes forneceu conta corrente, veículos e agências em Bangkok.
Qual o preço que o líder missionário nativo tinha que pagar? Ele deveria usar literatura estrangeira, filmes e o método padrão dessa organização americana altamente tecnológica. Nenhuma consideração está sendo feita sobre quão eficazes esses aparelhos e métodos serão na edificação da igreja na Tailândia. Eles serão usados se forem eficazes ou não porque eles estão escritos nos manuais de treinamento e livros desta organização.
Afinal de contas, o raciocínio desse grupo é: esses programas funcionaram em Los Angeles e Dallas – eles devem funcionar na Tailândia também!
Esse tipo de pensamento é o pior neocolonialismo. Usar o dinheiro dado por Deus para empregar pessoas para perpetuarem nossos princípios e teorias é um método moderno de um imperialismo fora de moda. Nenhum outro método poderia ser mais antibíblico.
O triste fato é: Deus já estava fazendo uma obra maravilhosa na Tailândia pelo Seu Espírito Santo por vias culturais aceitáveis. Por quê este grupo americano não teve a humildade para render-se ao Espírito Santo e dizer, “Seja feita a Tua vontade, Senhor?” Se eles queriam ajudar, acho que a melhor maneira seria apoiando o que Deus já estava fazendo pelo Seu Santo Espírito. No momento em que este grupo descobrir que cometeu um erro, os missionários que bagunçaram a igreja local retornarão para casa de licença – provavelmente para nunca mais retornarem. Nas suas conferências contarão histórias de vitórias na Tailândia enquanto evangelizavam o país ao estilo americano; mas ninguém estará perguntando sobre a questão mais importante, “Onde está o fruto que permanece?”
Freqüentemente nos tornamos tão preocupados com a expansão de nossas organizações que não compreendemos a grande extensão do Espírito Santo de Deus enquanto Ele se move sobre as pessoas do mundo. Pretendendo edificar “nossas” igrejas, falhamos em ver como Cristo está edificando a Igreja “dEle” em cada nação. Devemos parar de olhar os perdidos do mundo através dos olhos de nossa denominação em particular. Então estaremos habilitados a ganhar as almas perdidas para Jesus ao invés de tentar adicionar números às nossas organizações humanas para agradar os administradores que controlam os recursos.

Quarto, os missionários ocidentais não podem ir facilmente aos países onde a maioria dos chamados “não-alcançados” vivem. Mais de 2 bilhões destas pessoas existem em nosso mundo hoje. Milhões e milhões de almas perdidas nunca ouviram o Evangelho. Nós ouvimos muitos clamores que deveríamos ir até eles, mas quem irá? Os povos perdidos quase todos vivem em países fechados ou severamente restritos aos missionários americanos e europeus.
Dos mais de 135.000 missionários norte-americanos atualmente comissionados, pouco mais de 10.000 estão trabalhando entre povos realmente ainda não-alcançados. A vasta maioria estão trabalhando entre as igrejas já existentes ou onde o Evangelho já é pregado.
Apesar de um terço dos países no mundo de hoje proibirem os missionários ocidentais, agora os missionários nativos podem ir ao grupo mais próximo dos povos não-alcançados. Por exemplo, um indiano pode ir para o Nepal com o Evangelho com muito mais facilidade do que alguém do ocidente.

Quinto, missionários ocidentais raramente são eficientes hoje em atingir os asiáticos e estabelecerem igrejas locais nos vilarejos da Ásia. Diferentemente dos missionários ocidentais, os missionários nativos podem pregar, ensinar e evangelizar sem serem bloqueados pelas muitas barreiras que confrontam os ocidentais. Como um nativo do país ou região, ele conhece os tabus culturais instintivamente. Freqüentemente, ele já domina a língua ou um dialeto relacionado. Ele se move livremente e é aceito em bons e maus momentos como um deles. Ele não tem de ser transportado milhares de milhas nem requer treinamento especial e escola de idiomas.
Recordo-me de um incidente – um entre muitos – que ilustram este triste fato. Durante meus dias de pregação no norte da Índia, encontrei uma missionária da Nova Zelândia que tinha estado envolvida no ministério cristão na Índia por 25 anos. Durante seu período final, ela foi designada para uma livraria cristã. Um dia quando minha equipe e eu fomos à loja dela para comprar alguns livros, encontramos a loja fechada. Quando fomos ao alojamento dos missionários – que era uma mansão murada - perguntamos a ela o que estava acontecendo. Ela replicou, “Estou indo embora para sempre.”
Perguntei a ela o que aconteceria ao ministério da livraria. Ela respondeu, “Vendi todos os livros, e encerrei o negócio.”
Com profunda dor, perguntei a ela se ela não teria preparado alguém para continuar a obra.
“Não, não encontrei ninguém,” replicou ela. Eu me admirei por quê, após 25 anos na Índia, ela estava saindo sem uma única pessoa ganha para Cristo, nenhum discípulo para continuar seu trabalho. Ela, assim como seus colegas missionários, viveram em condomínios murados com três ou quatro servos para cuidar do seu estilo de vida. Ela gastou uma vida inteira e incontável quantia do precioso dinheiro de Deus que poderia ser usado para pregar o evangelho. Eu não poderia ajudar exceto pensar que Jesus nos tinha chamado para nos tornarmos servos – não mestres. Tivesse ela feito assim, teria realizado o chamado de Deus para sua vida e cumprido a Grande Comissão.
Infelizmente, esta triste verdade está se repetindo em todo o mundo das missões estrangeiras no estilo colonial. Lamentavelmente, raramente os missionários tradicionais são questionados a respeito da atual falta de resultados, nem a falha deles está sendo divulgada nas suas pátrias no ocidente.
Ao mesmo tempo, os missionários nativos estão vendo milhares se convertendo a Cristo nos movimentos de reavivamento em cada continente. Centenas de novas igrejas estão sendo formadas a cada semana pelos missionários nativos no Terceiro Mundo!

Fonte: "Revolution in World Missions"
Autor: Dr. K.P. Yohannan
Tradução: Hermann & JeffQuevedo

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