Cap. 13

A Esperança Tem Muitos Nomes

A questão é, o que a Bíblia diz a respeito da justiça social e sobre compaixão? Qual é o papel da igreja nestes assuntos?
Claramente, apenas de olhar para o exemplo de Cristo em como Ele viveu nessa terra, não devemos negligenciar as necessidades da humanidade sofredora.
Quando Jesus veio, Ele não apenas alimentou as almas das pessoas com as verdades do céu e Ele mesmo como o Pão da Vida, mas Ele encheu seus estômagos com peixe e pão, e com vinho também.
Ele abriu não apenas os olhos dos corações das pessoas para verem a verdade, mas também seus olhos físicos, restaurando a visão delas a fim de que pudessem ver o mundo ao seu redor.
Ele fortaleceu a fé do fraco, enquanto fortalecia as pernas do coxo.
Ele que veio para dar a vida eterna ao vale das almas mortas e secas também deu vida ao filho da viúva, levantando-o mais uma vez (veja Lucas 7:11-15).
Não era uma coisa ou outra – era ambas, e ambas para a glória de Deus.
Esse exemplo de ministério aparece por toda a Bíblia. Olhe através do Velho Testamento e você verá uma forte ênfase colocada a respeito da compaixão sobre o necessitado e sobre a justiça social para os maltratados e pobres. Deus ordena o cuidado e proteção de todos aqueles que foram oprimidos (veja Levíticos 19:18; Isaías 1:17; 58:10-11), e alguns dos mais terríveis julgamentos caíram sobre as cidades de Sodoma e Gomorra pela maneira que elas exploraram os pobres e os necessitados (Ezequiel 16:49-50).
Em Mateus 22:38-40, Jesus claramente marcou a responsabilidade social do cristão quando disse que amar a Deus é o primeiro e o maior mandamento e que “o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos depende toda a lei e os profetas” (ênfase minha).
Toda a Lei e os Profetas são resumidas em ambas – amar a Deus e amar os outros. Não é uma ou outra – mas novamente ambas, para a glória de Deus.
Não podemos dizer que amamos os outros se ignorarmos suas necessidades espirituais. Da mesma forma, não podemos dizer que amamos os outros se ignorarmos suas necessidades físicas. Jesus veio para ambos.
De fato, Jesus tem mostrado como o sofrimento físico da humanidade trouxe muitos a chamá-lo de Salvador de suas almas.
Em João 20:30-31 nos é dito, “Jesus operou na presença de seus discípulos muitos outros sinais miraculosos que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.” O Evangelho mostra que foi o doente, o possuído por um espírito imundo, o faminto e o pobre que vieram a Jesus e cujas vidas foram mudadas pelo seu toque curador. Jesus mesmo declarou que Ele tinha vindo para pregar o Evangelho ao pobre, ao preso, ao cego e ao oprimido (veja Lucas 4:18).
Através dos muitos que foram curados de doenças horríveis e libertos da escravidão satânica, Jesus mostrou a si mesmo como o único capaz de salvar suas almas do pecado e da morte. O ministério de misericórdia que Jesus realizou não era um fim em si mesmo, mas ao contrário foi um meio. E assim é o mesmo hoje.
Como já mencionei no capítulo anterior, não devemos entender mal (ou trocar) o evangelismo pela ação social. A Grande Comissão não é um mandato para a libertação política.
Muitos que estão familiarizados com o ministério da missão Gopel for Asia sabem que em primeiro lugar estamos comprometidos em plantar igrejas e fazer novos discípulos. Nossa preocupação sempre tem sido o evangelismo e plantar igrejas, e nunca para trocar pelo trabalho social sozinho.
A salvação das almas e fazer discípulos tem sido nosso alvo e objetivo em todas as coisas, a regra pela qual todas as oportunidades de ministério são medidas. Mas isso não significa, de maneira nenhuma, que não nos importamos quanto ao sofrimento físico daqueles a quem procuramos ministrar.
Nossos espíritos, que são eternos e infinitamente mais preciosos do que todo o mundo físico, estão contidos em corpos físicos e perecíveis. E através das Escrituras, vemos que Deus usou as necessidades que o corpo sentia para conduzir as pessoas a Si. Verdadeiramente, as necessidades dos homens, mulheres e crianças que sofrem nesse mundo são grandes – especialmente na janela 10/40.
Calcutá sozinha é o lar de mais de 100,000 crianças de rua que jamais conheceram o pai ou a mãe, carinho e amor. Elas não são apenas números ou estatísticas – elas são crianças reais. Apesar de não terem nomes ou rostos nas ruas onde vivem, cada uma foi feita com amor e é conhecida por Deus.
É duvidoso que elas já tenham escovado os dentes alguma vez ou tomado banho com sabonete; elas nunca tomaram sorvete ou brincaram com boneca. As crianças operárias no Sul da Ásia trabalham em fogos de artifício, em fábricas de tapetes e de fósforos; em minas de carvão ou pedreiras; nos campos de arroz; nas plantações de chá, e nos pastos. Porque elas são expostas à poeira, às fumaças tóxicas, e aos pesticidas, a saúde delas está comprometida; seus corpos são aleijados de tanto carregar pesos absurdos. Alguns são operários escravos, escravizados pelos seus deveres devido a pobreza da família.
De acordo com os Vigias dos Direitos Humanos essa é a vida para as 60 até 115 milhões de crianças no Sul da Ásia. No estado de Tamil Nadu na Índia a pequena menina de nove anos Lakshmi trabalha numa fábrica como uma fabricante de cigarros. Ela conta a história de sua irmã nos dando uma pequena visão do mundo delas:

Minha irmã tem 10 anos. Todas as manhãs, às 7 horas ela vai para o homem que contrata os trabalhadores, e todas as noites ela volta para casa às 9 horas. Ele a trata muito mau; ele bate nela quando acha que ela está trabalhando devagar ou se ela conversa com outras crianças ele grita com ela, ele a procura se ela está doente e não pode ir trabalhar. Acho que isso é muito difícil para ela.
Eu não ligo para escola ou para brincar. Não ligo p’rá nada disso. Tudo o que eu quero é trazer minha irmã daquele homem de volta p’rá casa. Por 600 Rúpias* eu posso trazê-la de volta p’rá casa – essa é nossa única chance de tê-la de volta.
Não temos 600 Rúpias ... Nunca teremos 600 Rúpias.

*600 Rúpias é o equivalente aproximado de U.S.$ 17,00

Esses que Jesus pensou enquanto morria na cruz não devem ser esquecidos pelo seu Corpo hoje. Esses por quem Cristo sofreu então, não devem ser abandonados por nós, que somos suas mãos e pés agora. Enquanto avançamos no evangelismo mundial não podemos restringir o abraço de cura com o qual cuidamos e provemos àqueles que são preciosos aos olhos de Deus.
Estou falando, em particular, a respeito dos Dalits, ou “Os Intocáveis” – a casta mais baixa da Índia. Por 3.000 anos, centenas de milhares dos Intocáveis da Índia tem sofrido opressão, escravidão e atrocidades incontáveis no nome da religião. Eles são pegos num sistema de casta que nega a eles educação adequada, água boa para beber, empregos de pagamento decente e o direito de ter sua própria terra ou uma casa. Segredados e oprimidos, os Dalits são freqüentemente as vítimas de crimes violentos.
E assim da mesma forma que a necessidade é grande, da mesma forma é a possibilidade para o poder de Cristo e do seu amor ser conhecido.
Nos anos recentes, a porta para essas possibilidades tem sido escancaradamente abertas. Entre os Dalits e outros grupos de castas baixas que enfrentam o tratamento repressivo similar tem havido um desejo crescente por liberdade. Os líderes que representam aproximadamente 700 milhões destas pessoas tem aparecido exigindo justiça e liberdade da escravidão de castas e da perseguição.
O ponto de virada veio em 4 de novembro de 2001, quando dezenas de milhares de Dalits se uniram para uma das reuniões mais históricas do século 21, publicamente declarando seu desejo para “acabar com o Hinduismo” e seguir a fé de sua própria escolha.
Desde aquele evento, o Senhor tem dirigido a missão Gospel for Asia para de forma tangível expressar o amor do Senhor aos Dalits, as castas-baixas e famílias tribais de uma forma única: tentando alcançar e ministrar a seus filhos.
Ponte da Esperança, o nosso programa para alcançar as crianças, é designado para resgatar milhares de crianças na Ásia de uma vida miserável e sem esperança através de dar a elas uma educação e introduzi-las ao amor de Deus. Através desse esforço, as igrejas são plantadas e comunidades inteiras são colocadas num curso em direção a transformação espiritual tanto quanto num desenvolvimento social.
Hoje mais de 30.000 crianças estão inscritas nas centenas de centros da Ponte de Esperança, e o programa continua a crescer. Um desses centros está localizado no povoado do missionário nativo e pastor Samuel Jagat.
Samuel não tinha nenhuma idéia que o grupo atendente de 35 Dalits e crianças de casta-baixa faria tal diferença notável no seu ministério. Mas um menino do primeiro ano na sua escola estava para mostrá-lo o outro lado.
A mãe de Nibun tinha estado doente com malária por muito tempo. Médicos, sacerdotes e feiticeiros não puderam achar a cura, e sua morte parecia inevitável.
Mas Nibun tinha uma pequena semente de esperança em seu coração – a Palavra de Deus. As histórias bíblicas tem sido uma parte regular do curriculum da Ponte da Esperança na escola do vilarejo, e como muitas outras crianças, Nibun voltaria para casa e narraria cada história que ele tinha ouvido para sua família.
Uma noite, enquanto Nibun e sua família sentaram juntos ao lado da cama de sua mãe, ele contou para eles como Jesus levantou da morte o filho da viúva. Isso tornou-se o ponto de virada para a vida de todos eles.
“Naquela noite, depois de ouvir essa história,” o pai de Nibun compartilhou mais tarde, “eu não podia mais dormir. Essa história ficava queimando no meu coração vez após vez”.
O pai de Nibun procurou Samuel na manhã seguinte. Depois de ouvir mais sobre Jesus e de Sua oferta de salvação, o homem pediu ao pastor para vir e orar por sua esposa. “Eu creio que Jesus ira curar minha esposa da mesma forma que ele fez pelo filho da viúva,” ele afirmou.
A mãe de Nibun, apesar de fraca fisicamente, compartilhou a mesma confiança: “Meu filho fala sobre Jesus muitas vezes em nossa casa. Eu acredito que Jesus vai me curar”.
O pastor Samuel impôs as mãos sobre a mulher moribunda e orou ao Senhor que a erguesse; então ele voltou para sua casa.
No dia seguinte ele viu Nibun e perguntou como sua mãe estava indo.
“Minha mãe está andando por aí,” ele respondeu contente, “e nessa manhã ela que preparou o café para nós!”

Quando Samuel chegou na casa de Nibun, ele viu uma família transformada tanto fisicamente e espiritualmente. Todos eles haviam tomado uma decisão para seguir a Cristo.
Essa abertura para o Evangelho entre o povo Dalit e outros grupos de castas baixas marca uma oportunidade sem paralelo para alcançar os menos alcançáveis na Terra hoje – acima de 700 milhões de almas. Elas são uma parte da seara que Jesus nos conta que é um vasto campo pronto para ser colhido e trazido ao reino eterno de Deus.
A Ponte da Esperança providencia os meios pelos quais podemos ir até esses milhões e completar a tarefa.
O pai de Nibun expressa isso da seguinte maneira: “Eu agradeço a Deus por essa escola e oro que Ele possa usá-la para trazer Sua luz para muitos lares, assim como Ele tem feito em nossa família”.
Desde o início de nosso ministério, sempre usamos toda a oportunidade para compartilhar o Evangelho e ver milhares vindo à Cristo, especialmente nas comunidades mais pobres e necessitadas. Isso não tem mudado. Desde o nosso começo, temos tido ministérios especiais entre as colônias de leprosos e mendigos, com dezenas de igrejas plantadas entre essas pessoas necessitadas. Então quando ouvimos o grito desesperado de ajuda dos Dalits, estamos ansiosos para ministrar a eles.
A maneira mais tangível que vimos para fazer isso foi ajudar prover uma educação para seus filhos, a qual freqüentemente se iguala a liberdade em muitas dessas nações.
De fato, uma das razões que tantas crianças e suas famílias permanecem escravizadas como operários-escravos é pelo simples fato que elas não podem ler os contratos feitos entre elas e seus contratantes.
Por causa do analfabetismo, cegamente eles são passados p’rá traz pelos que tiram vantagens deles e os trapaceiam não só no dinheiro e no tempo, mas também a respeito do seu futuro.
Mesmo assim, a Ponte de Esperança não é apenas um esforço social cujo propósito e finalidade seja a educação. De maneira nenhuma. É o amor de Cristo que nos constrange a ministrar dessa forma, sabendo que cada criança e sua família são preciosas aos olhos de Deus.
A Ponte da Esperança é simplesmente o meio para comunicar o Evangelho e ver milhões passarem da morte para a vida.
Deixe me contar a vocês uma experiência que eu tive nos estágios iniciais desse ministério potencial aos Dalits que mudou meu pensamento e nos impulsionou em direção ao programa da Ponte da Esperança.
Foi enquanto dormia nas primeiras horas da manhã que eu tive um sonho. Eu estava de pé em frente de um grande campo de trigo olhando para a seara que estava claramente pronta para a colheita. Eu fiquei ali por um tempo, dominado pelo tamanho da seara. O campo continuava ao que parecia como milhões de acres sem fim tão longe quanto a vista podia ver.
Enquanto estava ali em pé assistindo o trigo dourado balançar na brisa, cheguei ao entendimento repentino que eu estava olhando para a seara que Jesus tinha falado em João 4 e em Mateus 9. Era como se o Senhor estivesse me contando que essa seara estava livre para ser tomada, como o Salmo 2 nos diz para pedir as nações e Ele no-las daria.
Dominado com a alegria de ver tanta seara pronta para a colheita e sabendo que isso representava milhões e milhões de almas sendo resgatadas de uma eternidade no inferno, eu comecei a pular. Com todas as minhas forças eu corri em direção ao campo. Mas enquanto chegava mais perto fui parado. Eu não podia chegar mais próximo. Havia um rio largo que fazia uma separação entre a seara e eu, um rio tão profundo e violento que eu não me atrevia dar mais um passo ou tentar cruzá-lo. Eu não podia vê-lo de onde estava antes, mas agora podia vê-lo.
Meu coração se partiu. Eu só era capaz de olhar a seara, não podia chegar a ela. Eu fiquei lá chorando, sentindo tão incapaz e cheio de desespero.
De repente apareceu diante de mim uma ponte que alcançava os dois lados daquele vasto rio. Não era uma ponte estreita, mas uma bem larga e grande.
Enquanto olhava, a ponte ficou completamente cheia com criancinhas de toda a Ásia – pobres, crianças Dalits abandonadas, como aquelas que eu tinha visto nas ruas de Bombai, Calcutá, Dakar, Katmandu e em outras cidades asiáticas.
Então foi como se alguém falasse comigo e dissesse: “Se você quer ter essa seara, é toda sua. Mas essa é a ponte que você precisa andar para consegui-la”.
Eu acordei do meu sonho e entendi que o Senhor estava falando comigo sobre algo tão insignificante: que se seguirmos Suas instruções, nós veremos esses milhões sem fim de Intocáveis vindo para conhecê-lo. E nosso ministério às crianças seria a ponte para alcançá-los.
Eu compartilhei esse sonho com meus colegas, e compreendemos que Deus tinha nos chamado para trazer esperança as crianças da Ásia. Através da Ponte da Esperança, crianças seriam ensinadas sobre o Senhor Jesus Cristo e experimentariam Seu amor, e como resultado, suas comunidades e famílias viriam conhecer o Senhor.
Miraculosamente, isso tem estado acontecendo. Deus tem sido fiel em desenvolver os planos que Ele colocou em nossos corações.
Quando primeiramente os missionários da missão GFA foram para as comunidades numa parte da Índia para pregar o Evangelho, houve uma oposição bem forte contra eles. Mas quando nossos irmãos começaram a estabelecer os centros Ponte da Esperança para as crianças, eles foram bem vindos numa nova luz.
Com o correr do tempo, 50 Pontes da Esperança foram iniciadas naquela região. Menos de um ano mais tarde, 37 igrejas foram plantadas. E tudo começou com aquela pequena criança aprendendo de Jesus, indo para a casa e contando a seus pais; então milagre após milagre começou a transpirar! Essa não é uma exceção mas algo que estamos vendo numa base diária.
Na vontade de Deus, enquanto seguimos com a profunda convicção de ver o Evangelho pregado e a Grande Comissão verdadeiramente completada, veremos literalmente milhões vir a conhecer o Senhor. Enquanto respondemos as suas necessidades físicas e fazemos o que podemos no nome de Jesus, com a intenção deles ouvirem as Boas Novas do perdão de pecados e da redenção através da morte e ressurreição do Senhor Jesus Cristo, as comunidades serão mudadas, igrejas plantadas e discípulos serão feitos.
O verdadeiro cumprimento da Grande Comissão deve estar no coração de cada tentativa em ministrar para os que sentem necessidade da humanidade. Quando isso continua o elemento que transporta a obra, o amor de Cristo é mostrado numa maneira tangível que toca profundo nos corações dos homens e mulheres, levando-os ao salvador de suas almas.
Quando tudo está dito e feito, a linha mestra deve ser “... aos pobres é anunciado o Evangelho”(Mateus 11:5). Se isso não for feito, teremos falhado.
Fonte: "Revolution in World Missions"
Autor: Dr. K.P. Yohannan
Tradução: Hermann & JeffQuevedo

Nenhum comentário:

Postar um comentário