Cap. 11
Por que Eu Deveria Causar Ondas?


Quase no fim de 1981, a missão Gospel for Asia parecia estar ganhando aceitação. Pessoas por todo os Estados Unidos e Canadá estavam começando a compartilhar no ministério de equipar os missionários nativos para evangelizar em seus próprios países.
Enquanto Gisela e nossa equipe do escritório em Dallas trabalhavam para assinar novos mantenedores aos missionários nativos, senti guiado pelo Senhor para planejar uma viagem passando por 14 cidades do Texas para me encontrar pessoalmente com novos mantenedores. Telefonando de antemão eu me apresentava e agradecia as pessoas por tomar parte no sustento dos missionários nativos.
Fiquei chocado pela resposta. A maioria das pessoas tinha me ouvido no rádio e parecia entusiasmada com a idéia de me encontrar. Em todas as cidades alguém me oferecia hospedagem e fazia arranjos para que eu falasse em pequenas reuniões nas casas e igrejas. As pessoas estavam se referindo a mim de uma nova maneira – como o presidente e diretor de uma importante organização missionária. Longe de ser agradado, eu estava mais horrorizado do que nunca - com medo de falhar ou ser rejeitado.
Mas com as reuniões solidamente agendadas e com a publicidade um medo irracional apareceu. Um cansaço tomou conta de mim. Quando o dia para minha partida chegou mais perto, eu procurei desculpas para cancelar ou adiar toda a aventura.
“Minha família e o escritório precisam mais de mim”, eu argumentei. “Além disso, estarei dirigindo o carro sozinho. É perigoso e difícil – Eu realmente deveria esperar até que alguém possa ir comigo”.
Exatamente quando eu quase estava me convencendo de não ir, o Senhor me falou numa voz inconfundível durante meu devocional pessoal matutino.
“Minhas ovelhas ouvem minha voz”, disse o Senhor, usando Suas palavras de João 10, “e eu as conheço e elas me seguem: Minhas ovelhas me seguem porque conhecem a minha voz”.
Eu não precisava de uma interpretação; a mensagem era clara. A viagem tinha sido ordenada por Ele. Ele a tinha arranjado e aberto as portas. Eu precisava ver a mim mesmo como num quadro como uma ovelhinha e seguir meu pastor pelos quilômetros a frente. Ele iria à minha frente em cada igreja e em cada casa onde eu ficaria.
Foram duas semanas celestiais. Em cada casa e igreja eu tive uma comunhão prazerosa com novos amigos – e acrescentávamos um número de mantenedores como resultado.
A igreja em Vitória, Texas, foi quase minha última parada, e o Senhor teve uma surpresa esperando por mim ali. Mas ele teve que me preparar primeiro.
Enquanto viajava de cidade em cidade eu tinha tempo a sós no carro para o Senhor lidar comigo sobre diversos assuntos que iriam causar impacto no futuro da missão e no meu próprio andar com Ele.
Um assunto envolvia uma das decisões políticas de maior alcance que eu já tomei. Por alguns anos eu tinha sofrido profunda dor sobre o que parecia ser um desequilíbrio pesado entre nossos negócios e manter instituições cristãs, como hospitais e escolas, e a proclamação do Evangelho. Tanto na Índia, como em minhas viagens pelos países ocidentais, eu constantemente descobria uma preocupação com a tão chamada atividade “ministerial” operada pelos obreiros cristãos, financiada pelo dinheiro das igrejas, mas com muito pouco para distinguí-las como cristãs.
Muitos e muitos dos recursos das missões norte-americanas são gostos em coisas não relacionadas ao primeiro alvo da implantação de igrejas. Wagner, no seu livro “Em cima da onda”, diz, “Tenho diante de mim uma lista recente de vagas numa ...agência missionária não mencionada o nome. Das 50 categorias diferentes só duas relacionam ao evangelismo, ambas voltadas aos jovens. O resto das categorias incluem, entre outros, agrônomos, professores de música, enfermeiros, mecânicos de automóveis, secretárias, professores de eletrônica, e ecologistas”.
A preocupação social é um fruto natural do evangelho. Mas colocá-lo em primeiro lugar é colocar a carroça na frente dos bois; e por experiência, temos visto isso falhar na Índia por mais de 200 anos. Era uma tentativa de concentrar exclusivamente nas necessidades sociais obvias do povo.
Ainda enquanto eu pensava na natureza intrínseca do evangelho que envolvia o cuidado com os pobres, eu sabia que a prioridade era dar o evangelho a eles. Satisfazer suas necessidades era um meio de compartilhar o amor de Cristo para que eles pudessem ser salvos para a eternidade.
Eu não segui nessa rota porque senti que outros ministérios de caridade e compaixão estavam errados em mostrar o amor de Cristo. Não, muito estavam fazendo um excelente trabalho. Mas senti que a igreja local deveria estar centralizada no discipulado, e precisávamos encontrar o equilíbrio novamente.
Não disse publicamente a ninguém sobre minha decisão. Sabia que esse assunto seria controvertido, e estava com medo que outros pensassem que eu só estava julgando os outros, sendo um reacionário “briguento por levantar fundos”, ou um fanático. Eu só queria ajudar o movimento dos missionários nativos, e raciocinava que entrar em argumentos sobre estratégia missionária seria contraprodutivo.
Então veio Vitória, Texas.
Minha apresentação foi ótima. Mostrei os ‘slides’ da GFA (Gospel for Asia) e fiz um apelo apaixonante sobre nossa obra. Expliquei a filosofia do nosso ministério, dando razões bíblicas porque os pagãos estão perdidos a menos que os missionários nativos vão até eles.
De repente, senti o Espirito me apertando para falar sobre os perigos do evangelho social humanístico. Paramos para o intervalo e, então continuei sem mencionar a respeito. Eu apenas não tinha coragem. Eu vou acabar fazendo inimigos em todo o lugar. As pessoas pensariam que eu era um tolo sem amor, um estraga ministérios cristãos que nem se importa com os famintos, nus, necessitados e sofredores. Por que eu deveria causar ondas? Eu manejei de tal maneira para permanecer na minha apresentação, e sentindo aliviado, abri a reunião para perguntas.
Mas o Espirito Santo não estava me permitindo sair do anzol.
Lá bem longe no fundo do salão, um homem bem alto, com quase dois metros (six foot three, como dizem no Texas), veio andando com firmeza até a plataforma, ficando cada vez maior enquanto chegava mais perto de mim. Eu não sabia quem ele era, ou o que ele tinha para dizer, mas senti instintivamente que Deus o tinha enviado. Quando ele chegou perto de mim ele colocou seu braço grande sobre meus ombros magros e disse algumas palavras que ainda hoje posso ouvi-las ecoando: “Esse homem aqui, nosso irmão, está temeroso e com medo de falar a verdade ... e ele está lutando com isso”. Senti minha face e pescoço esquentar com a culpa. Como esse grande caubói sabia disso? Mas ficou pior, e eu estava para ver a prova que o Espírito do Deus vivo estava realmente usando esse Texano alto para entregar uma confirmação poderosa e uma repreensão a mim.
“O Senhor tem guiado você em caminhos que outros não tem andado e mostrado a você coisas que outros não tem visto,” ele continuou. “As almas de milhões estão na estaca, condenadas. Você deve falar a verdade sobre a prioridade mal colocada nos campos missionários. Você deve chamar o Corpo de Cristo para se voltar para o dever de pregar a salvação e arrebatar as almas do inferno”.
Eu me senti como um zero, ainda que isso era inegavelmente uma profecia miraculosa inspirada por Deus, confirmando tanto minha desobediência e a verdadeira mensagem que Deus tinha me chamado para pregar destemidamente. Mas minha humilhação e liberação ainda não estava terminada.
“O Senhor tem me pedido”, o grandalhão disse, “para chamar os anciãos aqui em cima para orar por você que esse medo do homem possa deixá-lo”.
De repente me senti ainda menos do que zero. Eu tinha sido introduzido como um grande líder de missões; agora me sentia como um cordeirinho. Queria me defender. Eu não me sentia como se estivesse sendo controlado pelo espirito de temor; sentia que estava apenas agindo logicamente para proteger os interesses da nossa missão. Mas eu me submeti mesmo assim, sentindo-me um pouco ridículo enquanto os anciãos se amontoaram ao meu redor para orar por uma unção de poder sobre meu ministério de pregação.
Alguma coisa aconteceu. Senti o poder de Deus me envolvendo. Poucos minutos mais tarde eu me ergui sobre meus joelhos um homem mudado, liberto da escravidão do medo que tinha me prendido. Todas as dúvidas se foram: Deus tinha colocado um ardor na minha vida para entregar essa mensagem.
Desde aquele dia tenho insistido que devemos redescobrir o genuíno evangelho de Jesus – aquela mensagem equilibrada do Novo Testamento que começa não com as necessidades corporais do povo, mas com o plano e sabedoria de Deus – a conversão do “novo-nascimento” que leva à justiça, a santificação e a redenção. Qualquer “missão” que brota das “coisas básicas do mundo” é uma traição de Cristo e é o que a Bíblia chama “outro evangelho”. Não pode salvar ou redimir as pessoas nem como indivíduo nem como sociedade. Nós pregamos um Evangelho, não apenas para os anos do tempo, mas para a eternidade.
O único problema com meias-verdades é que elas contém dentro delas mentiras inteiras. Tal é o caso com essa declaração emitida em 1928 na Conferência do Concílio Missionário Internacional: “Nossos pais ficaram impressionados com o horror de que os homens deveriam morrer sem Cristo; nós estávamos igualmente impressionados com o horror de que eles deveriam viver sem Cristo”.
Por causa de tal retórica – geralmente entregue apaixonadamente por um sempre crescente número de humanistas sinceros dentro de nossas igrejas – aparece miríades de programas sociais mundanos. Tais esforços realmente rouba a salvação e a verdadeira redenção dos pobres – condenando-os a uma eternidade no inferno.
É claro que há uma verdade básica na declaração. Viver essa vida sem Cristo é uma existência de um vazio horrível, um que não oferece nenhuma esperança ou significado. Mas o humanista sutil mente que esconde lugares na ênfase da felicidade desta vida física presente.
O que poucos compreendem é que este ensino cresceu da influência dos humanistas do século 19, dos mesmos homens que nos deram o ateísmo moderno, o comunismo e as muitas outras filosofias que negam a soberania de Deus nos relacionamentos dos homens. Eles são, o que a Bíblia diz, “anticristos”.
Os homens modernos inconscientemente elevam demasiadamente os ideais humanistas de felicidade, liberdade e progresso social, cultural e econômico para toda a humanidade. Essa visão secular diz que não há nenhum Deus, céu ou inferno; há apenas uma chance nessa vida, então faça o que o deixa mais feliz. Também ensina que “desde que todos os homens são irmãos,” deveríamos trabalhar para aquilo que contribua para o bem-estar social de todos os homens.
Esse ensino – tão atrativo sobre a superfície – tem entrado em nossas igrejas de muitas maneiras, criando um homem-centralizado e um evangelho feito pelo homem baseado em mudar o exterior e o status social do homem satisfazendo suas necessidades físicas. O preço disso é sua alma eterna.
O tão chamado evangelho humanista - que não é realmente as “boas-novas” de forma alguma – é chamado de vários nomes. Alguns argumentam a seu favor em termos bíblicos familiares e teológicos; alguns o chamam de “evangelho social” ou o “evangelho holístico”, mas o rótulo não é importante.
Você pode distinguir o evangelho humanista porque ele recusa admitir que o problema básico da humanidade não é físico, mas espiritual. O humanista não te dirá que o pecado é a raiz causadora de todo o sofrimento humano.
A última ênfase do movimento começa argumentando que deveríamos realizar alcance missionário que providencia “ajuda para o homem por inteiro”, mas isso acaba providenciando ajuda só para o corpo e a alma – ignorando o espírito.
Por causa desse ensino, muitas igrejas e sociedades missionárias agora estão redirecionando seus fundos limitados de expansão e seu pessoal, tirando do evangelismo para alguma coisa que vagamente é chamado de “preocupação social”. Hoje a maioria dos missionários cristãos encontram-se a si mesmos primariamente envolvidos em alimentar os famintos, cuidar dos doentes através de hospitais, arrumar casa para os sem-teto ou outros tipos de assistência e de trabalho de desenvolvimento. Em casos extremos, entre não-evangélicos, a direção lógica desse pensamento pode levar a organização de guerrilhas, plantar bombas terroristas, ou atividades menos extremas como sustentar aulas de dança e exercícios aeróbicos. Isso é feito no nome de Jesus e supostamente é baseado no Seu mandamento de ir por todo o mundo e pregar o Evangelho para toda a criatura. A missão da igreja, como definida por esses humanistas, pode ser quase qualquer coisa exceto ganhar almas para cristo e discipulá-las.
A história já tem nos ensinado que esse evangelho – sem o sangue de Cristo, a conversão e a cruz – é uma derrota completa. Na China e na Índia temos tido sete gerações desse ensino, trazido a nós pelos missionários britânicos em formas levemente diferentes nos meados do século 19. Meu povo tem assistido os hospitais ingleses e as escolas virem e irem sem nenhum efeito notável nem nas nossas igrejas nem na sociedade.
Watchman Nee, um missionário nativo chinês pioneiro, colocou seu dedo no problema numa série de palestras entregue nos anos anteriores a Segunda Guerra Mundial. Leia alguns de seus comentários sobre tais esforços, como registrado no livro “Não Ameis o Mundo”:

“Quando as coisas materiais estão sob o controle espiritual elas cumprem seu apropriado papel subordinado. Livre deste controle elas rapidamente manifestam o poder que subjaz atras delas. A lei de sua natureza defende a si mesma, e sua característica mundana é evidenciada pelo curso que tomam.
A extensão do empreendimento missionário em nossa era presente nos dá uma oportunidade de testar esse princípio nas instituições religiosas de nossos dias e de nossa terra. A mais de um século atrás a igreja procurou estabelecer na China escolas e hospitais com um tom espiritual definido e um objetivo evangelístico. Naqueles primeiros dias não foram dadas muita importância aos prédios, enquanto uma considerável ênfase era colocada no papel da instituição na proclamação do evangelho. À 10 ou 15 anos atrás você poderia andar pelo mesmo chão e em muitos lugares achar instituições muito maiores e mais esplêndidas naqueles terrenos originais, mas comparadas com os primeiros anos, com muito menos convertidos. E nos dias de hoje muitas daquelas escolas esplêndidas e faculdades têm se tornado puramente centros educacionais, faltando em qualquer motivo evangelístico, enquanto para uma extensão quase igual, muitos dos hospitais existem agora unicamente como lugares para a saúde física e não mais espiritual. Os homens que os iniciaram tinham, devido ao seu andar mais próximo com Deus, mantido aquelas instituições firmemente dentro dos propósitos dEle; mas quando eles morreram, as instituições em si mesmas rapidamente gravitaram em direção aos padrões e alvos mundanos, e em fazê-lo classificaram a si mesmas como “coisas do mundo”. Não deveríamos estar surpresos por ser assim.

Nee continua expandir sobre o tema, dessa vez endereçando o problema dos esforços assistênciais de emergência para o sofrimento.

Nos primeiros capítulos de Atos lemos como uma contingência se ergueu a qual levou a igreja a instituir assistência para os santos mais pobres. Aquela instituição de serviço social urgente era claramente abençoada por Deus, mas era de uma natureza temporária. Você exclama, “Que bom se tivesse continuado!” . Somente alguém que não conhece Deus diria isso. Tivessem aquelas medidas assistênciais sido prolongadas indefinidamente elas com certeza teriam mudado na direção do mundo, uma vez que a influência espiritual em operação no seu início fosse removida. Isso é inevitável.
Mas há uma distinção entre a Igreja do edifício de Deus, por um lado, e por outro, aqueles subprodutos de valor social e de caridade que são lançados dela de tempos em tempos devido a fé e visão de seus membros. Esses últimos, por toda a sua origem em visão espiritual, possuem em si mesmas um poder de sobrevivência independente que a Igreja de Deus não tem. Elas são obras que a fé dos filhos de Deus podem iniciar e serem pioneiras, mas as quais uma vez que o caminho tenha sido mostrado e o padrão profissional arrumado, podem ser prontamente sustentadas ou imitadas pelos homens do mundo bem aparte daquela fé.
A igreja de Deus, deixe-me repetir, nunca deixa de ser dependente da vida de Deus para sua subsistência.

O problema com o evangelho social, mesmo quando ele está vestido com um uniforme religioso e operando dentro de instituições cristãs, é que ele procura lutar com o que é basicamente uma felicidade espiritual com armas da carne.
Nossa batalha não é contra a carne e o sangue ou com os sintomas do pecado como a pobreza e as doenças. É contra Lúcifer e os demônios incontáveis que lutam dia e noite para levar as almas humanas para uma eternidade sem Cristo.
Tanto quanto queremos ver centenas e milhares de novos missionários indo a todos os lugares de trevas, se eles não souberem o que eles devem fazer lá, o resultado será fatal. Devemos enviar soldados para a batalha com as armas certas e com o entendimento das táticas do inimigo.
Se pretendemos responder ao maior problema do homem – sua separação do Deus eterno – com as mãos cheias de arroz, então é como se estivéssemos jogando uma tábua para um homem que está morrendo afogado, ao invés de ajudá-lo a sair da água.
Uma batalha espiritual travada com armas espirituais produzirá vitórias eternas. Isso é a razão que insistimos sobre restaurar um equilíbrio justo para o alcance do Evangelho. A tônica deve ser primeiro e sempre sobre o evangelismo e o discipulado.

Fonte: "Revolution in World Missions"
Autor: Dr. K.P. Yohannan
Tradução: Hermann & JeffQuevedo

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