Cap.9
Missões É Uma Opção?


Se o Apóstolo Paulo não tivesse trazido o evangelho para a Europa, os princípios fundamentais tais como a liberdade e a dignidade humana não seriam parte da herança americana. Sendo que o Espirito Santo o instruiu da mudar de direção da Ásia e ir para o Ocidente, a América tem sido abençoada com seu sistema de leis e economia – os princípios que a fizeram rica e livre.
Além disso, os Estados Unidos é a única nação no mundo fundada por crentes em Cristo que fizeram um pacto com Deus – dedicando uma nova nação a Deus.
Tendo nascido ricos, livres e com as bênçãos divinas, os americanos deveriam ser o povo mais grato do planeta.
Mas junto com os privilégios vem a responsabilidade. O cristão não deveriam perguntar apenas o porque, mas também o que ele deveria fazer com esses favores imerecidos.
Através das Escrituras, vemos somente uma resposta correta para a abundância: Compartilhar.
Deus dá a algumas pessoas mais do que eles precisam para que elas possam ser canais de bênçãos para outras. Deus deseja igualdade entre Seu povo numa base de extensão mundial. Eis a razão pela qual não havia pobreza na igreja primitiva.
O apóstolo Paulo escreveu aos cristãos ricos em Corinto, “Mas, não digo isto para que os outros tenham alívio, e vós aperto, mas para igualdade. Neste tempo presente, a vossa abundância supra a falta dos outros, para que também a sua abundância supra a vossa falta, e haja igualdade” (2 Coríntios 8:13-14).
A Bíblia advoga e ordena que mostremos amor para os irmãos em necessidade. Bem nesse instante, devido a fatores históricos e econômicos que nenhum de nós podemos controlar, os irmãos em necessidade estão na Ásia. Os irmãos ricos estão nos Estados Unidos, Canadá e em poucas outras nações. A conclusão é óbvia: esses crentes ricos devem compartilhar com as igrejas pobres.
“Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. ...mas quem tiver bens do mundo e, vendo o seu irmão necessitado, cerrar-lhe o coração, como estará nele o amor de Deus? Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade” (I João 3:14, 17-18).
E, “Meus irmãos, que proveito há se alguém disser que tem fé, e não tiver obras? Pode essa fé salvá-lo Se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz; aquentai-vos e fartai-vos, mas não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito há nisso? Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma” (Tiago 2:14-17).
Será que missões é uma opção, especialmente para países super ricos como a América? A resposta bíblica é clara. Todo crente na América tem alguma responsabilidade mínima para se envolver em ajudar os irmãos pobres na igreja em outros países.
Deus não tem dado essa superabundância de bênçãos para os crentes americanos e canadenses a fim de que fiquemos sentados lá atrás apreciando as luxúrias dessa sociedade - ou mesmo em termos espirituais, afim de nos gloriarmos de nossos livros, ensino em videocassetes e conferências sobre uma vida mais profunda. Ele tem nos colocado nesse planeta para sermos mordomos dessas bênçãos espirituais e materiais, aprendendo como compartilhar com outros e administrar nossa riqueza para cumprir com os propósitos de Deus.
Qual é a verdadeira questão aqui? Deus está nos chamando como crentes para alterar nosso estilo de vida, para desistirmos daquelas coisas não essenciais de nossas vidas para que possamos investir melhor nossa riqueza no reino de Deus.
Para começar, eu desafio os crentes para separar pelo menos $ 1 por dia para ajudar no sustento de um missionário nativo do terceiro mundo. Isso, é claro, deveria ser além do nosso atual compromisso na igreja local e outros ministérios. Eu não peço aos crentes para redirecionar suas ofertas a outros ministérios para os missionários nativos – mas para expandir suas contribuições além e acima dos níveis atuais. A maioria das pessoas podem fazer isso.
Milhares de crentes norte-americanos e europeus podem realizar isso facilmente deixando de lado biscoitos, bolos, doces, cafés e refrigerantes. Esses aperitivos, de qualquer forma, não fazem bem para nossos corpos, e qualquer pessoa pode economizar o suficiente dessa maneira para ajudar a sustentar um ou até dois missionários por mês. Muitos vão além disso e, sem prejudicar a saúde ou sua felicidade, são capazes de ajudar no sustento de diversos missionários todos os meses.
Há, com certeza, muitas outras maneiras de se envolver. Alguns não podem dar mais financeiramente, mas podem investir tempo em oração e ajudar a recrutar mais mantenedores. E alguns poucos são chamados para o estrangeiro para tornarem-se mais diretamente envolvidos.
Mas quero deixar com vocês que o único obstáculo mais importante para a evangelização mundial agora é a falta de um total envolvimento pelo corpo de Cristo. Estou convencido que há mantenedores potencial suficientes para sustentar todos os missionários nativos necessários para evangelizar todos os países do terceiro mundo.
O movimento dos missionários nativos é relativamente novo, e muitos cristãos ainda não tem sido desafiados a participarem, mas isso é superficial. A pura verdade é muito mais básica – e mais mortal. As três maiores razões porque o Corpo de Cristo está insuficientemente facilitando a evangelização mundial são os pecados de orgulho, descrença e mundanismo.
Pergunte ao cristão comum porque o senhor destruiu Sodoma, e ele ou ela citará a grande imoralidade da cidade. Ezequiel, contudo, revela a verdadeira razão no capítulo 16, versos 49 e 50: “Ora, foi esta a maldade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão, e abundância de ociosidade teve ela e suas filhas; mas nunca amparou o pobre e o necessitado”.
Sodoma recusava ajudar o pobre necessitado por causa do orgulho. Nós temos sido pegos num orgulho nacional similar ao de Sodoma. Sim, carnalidade e perversão vem desse orgulho, mas devemos perceber que o orgulho é a verdadeira raiz. Lide com essa raiz e você arranca uma multidão de pecados antes que eles tenham uma chance de crescer.
Uma noite enquanto falava em uma conferência missionária, pediram-me para que eu fosse a uma reunião particular com o conselho da igreja para dar minha opinião acerca do novo programa missionário que eles estavam considerando. Eu já tinha pregado e estava bem cansado. Eu não me sentia bem tendo que sentar em uma reunião de diretoria. A reunião, com 22 pessoas, começou como de costume, mais como uma reunião de diretoria da IBM ou da General Motors do que numa reunião de diretoria da igreja.
O apresentador fez uma impressionante proposta parecida como proposta de negócio. O esquema envolvia mudar “os nacionais do terceiro mundo” da Ásia para um campo missionário na América Latina”. Era bem futurístico e soava como um salto maior em missões, mas luzes de alerta e sinos começaram agir na minha mente. Para mim soava como a prática missionária colonial do século 19 vestida com um disfarce diferente.
O Senhor falou para mim claramente: “Filho, hoje à noite você deve falar às pessoas que estão muito confiantes em si mesmas que nunca me perguntaram a respeito desse plano. Eles pensam que estou desamparado.”
Quando o presidente do conselho da igreja me chamou para dar minha opinião à proposta, eu me levantei e li certas partes de Mateus 28:18-20: “É me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto, ide e ensinai todas as nações ... a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado. E certamente estou convosco sempre...” .
Então fechei minha Bíblia e dei uma pausa, olhando cada um nos olhos.
“Se Ele está convosco,” eu disse, “então vocês o representarão – não apenas ser como Ele – mas vocês irão exercitar Sua autoridade. Onde está o poder de Deus nesse plano?”
Eu não precisei dizer muito. O Espírito Santo ungiu minhas palavras., e todos pareceram entender.
“Qüão freqüentemente vocês tem se reunido para oração?” Eu perguntei retóricamente. Há quanto tempo vocês tiraram um dia inteiro para oração e para procurar o pensamento de Deus quanto sua estratégia missionária?”. Era fácil ver de seus olhos que eles tinham orado pouco a respeito do seu orçamento missionário, o qual era, então de centenas de milhares de dólares.
A discussão foi até 1:30 da manhã, mas com um novo senso de arrependimento na sala.
“Irmão K.P.,” finalmente disse um líder para mim, “você destruiu tudo o que estávamos tentando fazer hoje à noite, mas agora estamos prontos para esperar pelo plano de Deus”.
Aquele tipo de humildade trará a igreja de volta para o centro da vontade de Deus e do seu plano global. As igrejas hoje não estão experimentando o poder e a unção de Deus em seus ministérios porque eles não tem a humildade de esperar nEle. Por causa desse pecado o mundo permanece largamente sem ser alcançado.
Tão pouco do trabalho cristão evangélico é feito em total dependência no Deus vivo. Como muitos dos nossos irmãos e irmãs naquela igreja grande, temos inventado métodos, planos e técnicas para “fazer” a obra de Deus. Aqueles envolvidos aparentemente não sentiam nenhuma necessidade de orar ou de serem cheios do Espírito Santo para fazer a obra de Jesus.
Qüão longe temos nos apartado da fé dos apóstolos e dos profetas! Que tragédia quando as técnicas do mundo e seus agentes são trazidos para o santuário de Deus. Somente quando somos esvaziados de nossa própria auto-suficiência Deus pode nos usar. Quando uma igreja ou uma junta missionária gasta mais tempo em consulta, planejamento e reuniões de comitês do que em oração, é uma clara indicação que os membros tem perdido o toque com o sobrenatural e tem terminado, nas palavras de Watchman Nee, “servindo a casa de Deus e esquecendo o próprio Deus”.
Parte do pecado do orgulho é de um sutil, mas profundo, racismo. Enquanto viajo, freqüentemente ouço questões que soam inocentes tais como: “Como sabemos que a igreja nativa está pronta para manusear os fundos?” ou, “que tipo de treinamento os missionários nativos tem tido?”
Desde que tais perguntas são baseadas num sincero desejo por uma boa mordomia, elas são recomendáveis, mas em muitos casos tenho descoberto que a intenção das perguntas são muito menos honrosas. Os ocidentais recusam a confiar nos asiáticos da maneira que confiam em sua própria gente. Se estamos satisfeitos que um certo missionário nativo é realmente chamado para o Evangelho, temos que confiar em Deus e direcionar nossa mordomia à ele e seus anciãos exatamente como faríamos a um outro irmão em nossa própria cultura. Esperar continuar o controle do uso do dinheiro e o ministério no estrangeiro da nossa junta de missões de base estrangeira é uma extensão do colonialismo. Isso acrescenta um elemento não bíblico, o qual só humilha e enfraquece os missionários nativos no decorrer do tempo.
Os cristãos precisam aprender que não estão dando seu dinheiro para os obreiros nativos, mas o dinheiro de Deus para Sua obra no estrangeiro.
Eis mais algumas manifestações de orgulho: ao invés de glorificar os lutadores do tipo John Wayne, do folclore dos heróis americanos, os crentes fariam bem sentando-se até o poder de Deus ser manifestado nas suas atividades cristãs.
As igrejas precisam desenvolver as disciplinas da quietude que há tanto têm perdido – práticas tais como a contemplação, jejum, audição, meditação, oração, silêncio, memorização das Escrituras, submissão e reflexão.
Muitos líderes cristãos são pegos em deveres secundários que debilita seu tempo e energia. Nunca me esquecerei quando preguei numa igreja onde o pastor entrou numa cruzada na defesa da tradução da Bíblia King James (Rei Tiago). Não apenas gasta a maioria do seu tempo no púlpito defendendo-a – mas milhares de dólares vão para editar livros, folhetos e panfletos defendendo o uso exclusivo dessa única tradução.
Nos anos que tenho vivido e trabalhado nos Estados Unidos, tenho assistido crentes e congregações inteiras serem pegos em todo tipo de cruzadas semelhantes e causas que, enquanto não necessariamente más em si mesmas, acabam desviando nossos olhos da obediência a Cristo. Assuntos picantes queimam no horizonte – tais como a inerrância, os dons carismáticos, as últimas revelações de mestres itinerantes ou humanismo secular, ou qualquer novo assunto que se levantar amanhã – precisa ser levado na perspectiva apropriada.
Sempre haverá novos dragões para sacrificar, mas não devemos deixar essas batalhas secundárias nos manter fora do nosso dever principal de construir e expandir o reino de Deus.
Quando vou à Ásia, vejo nossas igrejas e teólogos de lá sendo tão violentamente divididos sobre um punhado de assuntos diferentes, e através disso tenho chegado a conclusão que muitas vezes essas divisões doutrinárias são usadas pelo inimigo para nos manter preocupados com qualquer outra coisa além do Evangelho.
Estamos sendo dirigidos por poderosos egos para sempre estarmos certos. Freqüentemente somos escravos de uma tendência forte de “ter sempre as coisas do nosso jeito”. Tudo isso é manifestações de orgulho. O oposto disso é a atitude de servo e o sacrifício humilde ordenado por Cristo. Fazer um sacrifício por algum irmão desconhecido – sustentar sua obra para um povo estranho, usando métodos que sejam um mistério para você – necessita de humildade. Mas sustentar os irmãos nativos deve começar com esse tipo de espírito. Triste dizer, nosso orgulho também freqüentemente permanece no caminho do progresso.

Fonte: "Revolution in World Missions"
Autor: Dr. K.P. Yohannan
Tradução: Hermann & JeffQuevedo

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