Realmente começou através daquelas estranhas coincidências – algo divino que somente um Deus Soberano poderia arquitetar. No momento, eu era um ocupado estudante de divindade em Dallas no Criswell Bible Institute, avidamente sorvendo cada uma das minhas aulas. Agradeço ao ambiente acadêmico que Deus tinha tão miraculosamente provido, que me fez capaz de garimpar a Palavra de Deus como nunca antes. Pela primeira vez estava fazendo um estudo regular e profundo, e a Bíblia estava revelando muitos dos seus segredos para mim.
Após meu primeiro semestre, Gisela e eu nos casamos, e ela juntou-se a mim em Dallas no começo do semestre seguinte, outubro de 1974. Com exceção de pregar compromissos e outras oportunidades de compartilhar sobre a Ásia em finais de semana, estava totalmente absorvido em meus estudos e em estabelecer nosso novo lar.
Num dos finais de semana, um colega convidou-me para pregar numa pequena igreja que ele estava pastoreando em Dallas. Apesar de ser uma congregação típica americana, havia muitos irmãos índios nativos americanos.
Gisela estava especialmente emocionada porque na sua infância ela tinha orado para ser missionária entre os “Peles-Vermelha das grandes Planícies da América.” Enquanto suas colegas sonhavam com um casamento ou com o príncipe encantado, ela estava orando por um ministério entre os nativos americanos. E para minha surpresa, ela tinha colecionado e lido mais de cem livros a respeito da história e vida tribal dos índios americanos.
Estranhamente desafiado e atraído por esta pequena congregação, derramei meu coração na pregação. Nenhuma vez fiz menção da minha visão e chamado para a Ásia. Ao invés disso expus as Escrituras verso a verso. Um grande amor nasceu em mim por aquelas pessoas.
Contudo, sem que eu soubesse, meu amigo pastor pediu sua exoneração no mesmo dia. Os diáconos convidaram-me para retornar na próxima semana e na seguinte também. Deus deu-nos um amor sobrenatural por aquelas pessoas, e eles nos amaram também. No final daquele mês o conselho da igreja convidou-me a tornar-me pastor, eu tinha 23 anos de idade. Gisela e eu aceitamos a chamada, e instantaneamente me vi cuidando daquelas pessoas 24 horas por dia.
Mais de uma vez, com as faces coradas de vergonha, lembrava como tinha menosprezado pastores e seus problemas na Índia. Agora que eu estava restabelecendo relacionamentos, curando os feridos de espírito e mantendo a comunhão do grupo, comecei a ver as coisas por um ângulo muito diferente. Alguns dos problemas do povo de Deus são os mesmos em todo o mundo, então eu preguei contra o pecado e por uma viver santificado. Para outros problemas (tais como divórcio, uma epidemia no ocidente, mas raro na Índia) eu estava totalmente despreparado para lidar.
Apesar de meu peso ter aumentado para 48 quilos, eu quase tive um colapso quando tentei levar um novo convertido com 113 quilos às águas batismais. Pessoas vinham a Cristo continuamente, fazendo nos crescer, a igreja ganhava almas, com uma excitante série de cultos de seis noites por semana.
Os dias rapidamente se tornaram meses. Quando eu não estava em aula, estava com meu povo doando-me para eles com o mesmo abandono que caracterizava minha pregação nas vilas do norte da Índia. Aprendemos a visitação aos lares, visitação aos doentes nos hospitais, casamentos e funerais. Gisela e eu estávamos envolvidos na vida de nosso povo dia e noite. Desde que tínhamos vários grupos tribais indígenas representados na congregação, assim como “brancos”, logo descobrimos que estávamos ministrando a várias e diferentes culturas simultaneamente.
A “permanência no poder do Espírito” e dicipulado, eram o que faltaram ao meu ministério no Norte da Índia. Eu vi porque tinha falhado no Punjab. Manter as cruzadas evangelisticas e trazer as pessoas a Cristo não era o bastante: Alguém tem de estar atrás, nutrir e levar os novos crentes à maturidade.
Pela primeira vez comecei a entender o objetivo de todo trabalho missionário: o “aperfeiçoamento” dos santos para discípulos de Cristo leais e santificados. Jesus ordenou-nos a ir a todas as nações, batizando-os e ensinando-os a obedecer em todas as coisas, que Ele tinha revelado. Os ministros da equipe de evangelismo que eu tinha liderado na Índia tinha ido, mas nós não parávamos para ensinar.
A igreja – um grupo de crentes – é o local ordenado por Deus onde o processo de discipulado deve acontecer. O plano A de Deus para redenção do mundo é a Igreja, e Ele não tem plano B.
Enquanto pastoreava uma congregação local, o Senhor revelou-me, que as mesmas qualidades são necessárias aos evangelistas missionários nativos, os homens e mulheres que podem atingir os não-alcançados da Ásia. Em minha imaginação, eu via os mesmos conceitos de discipulado sendo implantados na Índia e através da Ásia. Como primeiros Metodistas à cavalo que plantaram igrejas nas fronteiras americanas, eu podia ver nossos evangelistas adicionando a implantação de igrejas aos seus esforços de evangelismo.
Mas mesmo quando o conceito me capturou, imaginei que isto tomaria um imenso exército – um exército do Senhor – para realizar a tarefa. Só na Índia há 500.000 vilarejos sem uma testemunha do evangelho. E ainda temos a China, sudeste da Ásia, e as ilhas. Nós precisaríamos de um milhão de obreiros para terminar a missão.
Esta idéia era por demais grandiosa para eu aceitar, então eu a tirei da minha mente. Afinal, raciocinei, Deus tinha me chamado para esta pequena igreja aqui em Dallas, e Ele estava abençoando meu ministério. Estava me sentindo muito confortável. A igreja nos apoiava tão bem; e com o nosso primeiro bebê a caminho, eu tinha começado a adotar como meu, o modo de vida do ocidente, completo com uma casa, automóvel, cartão de crédito, apólices de seguros, e contas bancárias.
Minha formação escolar continuava, enquanto eu me preparava para edificação da igreja. Mas minha paz sobre permanecer em Dallas estava diminuindo. No fim de 1976, e início de 1977, eu ouvia uma voz acusando-me cada vez que subia ao púlpito: “O que você está fazendo aqui? Enquanto você prega para uma rica congregação americana, milhões estão indo para o inferno na Ásia. Você esqueceu-se de seu povo?”
Um terrível conflito interior se desenvolveu. Eu era incapaz de reconhecer aquela voz. Seria a voz de Deus? Seria a minha consciência? Seria um demônio? Em desespero, decidi esperar pelo Senhor Deus, pelo seu plano. Eu afirmara que iria a qualquer lugar, faria qualquer coisa. Mas tínhamos de ouvir diretamente do Senhor. Eu não podia continuar a trabalhar com aquela voz me atormentando. Anunciei à igreja que eu estava orando, e pedi a ela para se unir comigo em buscar a vontade de Deus pelo futuro do nosso ministério.
“Pareço não ter paz,” admiti para eles, “a respeito de permanecer nos Estados Unidos ou retornar para a Índia. O que Deus está tentando dizer para mim?”
Enquanto orava e jejuava, Deus revelou-se para mim numa visão. Isto vinha e voltava várias vezes antes de eu entender a revelação. Muitas faces, apareciam diante de mim – rostos de homens e suas famílias de muitos países da Ásia. Eles eram santos, homens e mulheres, com aparência de consagração em suas faces. Pouco a pouco, eu entendi que estas pessoas eram a imagem do exército de Deus que estava sendo convocado, chamado para levar o Evangelho de Jesus, a todas as partes da Ásia.
Então o Senhor falou para mim – “Eles não podem falar o que você vai falar. Você irá onde eles não podem ir. Você está sendo convocado para ser servo deles. Você deve ir onde eu o enviar em favor deles. Você é chamado para ser servo deles.”
Como um relâmpago iluminando o céu numa tempestade, toda a minha vida passou diante de mim num único instante. Eu nunca tinha falado inglês até os dezesseis anos de idade, e agora ministrava nesta estranha língua. Não usara sapatos até os 17 anos. Eu nasci e cresci numa aldeia na selva. Rapidamente percebi que não tinha nada do que me orgulhar, meus talentos e habilidades não me trouxeram para a América. Minha vinda para cá, foi o ato da vontade soberana de Deus. Ele queria que convivesse com culturas diferentes, casar-me com uma esposa alemã, e vivesse numa terra estranha para dar-me as experiência que eu precisava para servir num novo movimento missionário.
“Eu o trouxe a esse ponto”, disse Deus. “A vocação da sua vida é ser servo de irmãos desconhecidos - homens a quem eu tenho chamado e separado entre as aldeias da Ásia”. Sabendo que tinha descoberto o propósito de Deus para minha vida, eu, ansiosa e impulsivamente compartilhei minha nova visão com os líderes da minha igreja e executivos de sociedades missionárias. Para meu completo espanto parecia que Deus se esqueceu de contar para todo mundo com exceção de mim.
Meus amigos acharam que eu estava louco. Líderes de Missões questionaram minha integridade e qualificações – e algumas vezes a ambas. Líderes de igrejas em quem confiava e respeitava abraçavam me paternalmente pelos ombros e aconselhavam-me a respeito dos perigos do excesso de emoção. Subitamente, após um simples anúncio, eu me via sozinho, sob ataque e obrigado a me defender. Eu sabia que se não tivera uma chamada tão clara, cristalina, eu teria sucumbido diante dos primeiros ataques de dúvida e descrença. Mas permaneci convicto do meu chamado – certo de que Deus estava iniciando um novo dia em missões mundiais. Ainda, ninguém parecia entender meu entusiasmo.
Secretamente eu me orgulhava de ser um bom orador, e um bom vendedor, mas nada do que pudesse fazer, ou dizer parecia mudar a tendência da opinião pública. Enquanto estava argumentando que “o vinho novo precisa de odres novos”, os outros apenas perguntavam, “Onde está o vinho novo?”
Meu único consolo era Gisela, que tinha estado na Índia, e aceitado a visão sem questionamentos. Em momentos de desencorajamento, quando minha fé vacilava, ela recusava-se a permitir-nos abandonar a visão. Rejeitados, mas certos que tínhamos ouvido o Senhor corretamente, nós mesmo, plantamos as primeiras sementes.
Escrevi a um velho amigo na Índia a quem conhecia e confiava a muitos anos, pedindo a ele para ajudar-me a selecionar algum missionário nativo necessitado, que já estivesse fazendo um trabalho especial diferenciado. Prometi encontrá-los mais tarde, e começamos a planejar uma viagem de pesquisa, em busca de obreiros mais qualificados.
Lentamente, uma parte de nosso próprio salário e recursos pessoais foram enviados como sustento missionário para a Índia. Tornei-me compulsivo. Imediatamente eu não podia comer um hambúrguer ou beber um refrigerante sem um sentimento de culpa. Assumimos que caíramos nas armadilhas do materialismo, e silenciosamente vendemos tudo o que podíamos, sacamos nosso saldo bancário e minha previdência privada. Lembro-me como um professor do seminário solenemente advertia sua classe de “jovens pregadores”, para poupar algum dinheiro a cada mês para possíveis emergências, adquirir um seguro de vida, ou previdência acima da hipoteca da casa.
Mas não podia achar nada disso nas ordenanças de Jesus no Novo Testamento. Por que era necessário poupar dinheiro em bancos quando Jesus ordenou-nos a não guardar tesouros na terra? “Não os mandei viver pela fé?” perguntou o Espírito Santo.
Então Gisela e eu nos conformamos em viver segundo os mandamentos de Jesus no Novo testamento, desprezando dinheiro e possessões materiais. Cheguei mesmo a trocar meu carro último modelo por um usado mais barato. A diferença foi direto para a Índia. Foi um regozijo fazer estes pequenos sacrifícios pelos irmãos nativos. Além disso, sabia que era a única maneira de começar a missão.
Por favor, entenda. Não é necessariamente errado ter seguro de vida ou uma conta de poupança. Essa era a maneira que o Senhor estava liderando minha família. Como o Senhor dirige você pode ser diferente. Isso é o que importa – cada um de nós é responsável por como obedecemos o que Ele tem dito e como pessoalmente o temos seguido.
Naqueles primeiros dias, o que nos manteve trabalhando foi a certeza de que não havia outro jeito. Mesmo que as pessoas não entendessem que tínhamos que começar um movimento nativo missionário, eu sentia que era essa a nossa obrigação por conhecer o chamado de Deus. Eu sabia que as missões ocidentais jamais conseguiriam fazer o serviço.
Desde que minha própria nação e muitas outras estavam fechadas para os estrangeiros, nós tínhamos que nos voltar para os crentes nativos. Mesmo se aos missionários ocidentais de alguma forma fosse permitido retornar, o custo para enviá-los alcançaria bilhões a cada ano. Evangelistas nativos poderiam fazer o mesmo por apenas uma fração do custo.
A mãe de K.P., orava confiantemente e jejuava cada sexta-feira
por três anos e meio, pedindo a Deus para chamar um dos seus
filhos para ser um missionário. Sua oração foi atendida quando
K.P. começou a servir ao Senhor com a idade de 16 anos.
K.P. Yohannan (quinto a partir da esquerda) com uma equipe de
Evangelismo na Operação Mobilização em 1971. Próximo a ele
Está Greg Livingston, diretor internacional de Fronteiras.
Milhões de almas em muitas nações Asiáticas adoram
incontáveis deuses como este. Profundamente religiosos e
sinceros, eles oferecem tudo o que possuem a estas deidades,
esperando obter o perdão de pecados.
Equipe dos Estados Unidos de Gospel for Ásia – 2003. Estes
dedicados irmãos e irmãs servem como uma ligação vital
entre milhares de Cristãos aqui no Ocidente e um exército de
missionários Asiáticos na linha de frente . Equipes similares
servem com o GFA no Canadá, Alemanha e Reino Unido.
Esta mulher representa muitos dos não alcançados grupos de pessoas que nunca ouviram o Nome de Jesus. Localizada no coração da Janela 10/40, a Índia tem o maior número de comunidades não-alcançadas no mundo hoje.
K.P. e sua esposa, Gisela, ambos tinham 23 anos quando Deus
os uniu para servi-lo com um propósito e um objetivo – viver
para Ele e dar tudo o que tinham para alcançar os perdidos. Isto
foi em 1974. Hoje eles jubilosamente continuam – para que esta
geração possa vir a conhecer o Senhor Jesus Cristo.
Senhor os abençoou com dois filhos, Daniel e Sarah,
que desde a mais tenra idade oram para o Senhor Jesus chamá-los para serem missionários. Depois de concluírem a faculdade, ambos irão estudar na Escola Bíblica Gospel for Ásia e servir ao Senhor no campo missionário.
Nunca contei a ninguém que eventualmente seria necessárias tão grandes somas de dinheiro. Eles já achavam que estava louco ao tentar sustentar de oito a dez missionários ao mês com o meu próprio salário. Imaginem o que pensariam se eu lhes contasse que necessitava de milhões de dólares ao ano para sustentar o exército do Senhor no campo missionário? Mas eu sabia que era possível. Várias sociedades missionárias ocidentais e de assistência social já estavam lidando com tais somas. Não via razão pela qual não pudéssemos fazer o mesmo.
Mas tão óbvio como estava em minha mente, eu ainda tinha algumas lições amargas para aprender. Dar vida a uma nova sociedade missionária iria tomar mais energia e capital inicial do que eu poderia imaginar. Tinha muito para aprender sobre a América e como as coisas são feitas aqui. Não sabia nada a respeito. Só sabia que tinha de ser feito.Com prazer juvenil, Gisela e eu fomos para a Índia para nossa primeira pesquisa de campo. Retornamos um mês depois, sem um centavo, mas comprometidos a organizar aquilo que mais tarde se tornaria a missão Gospel for Ásia – (O Evangelho para a Ásia).
Imediatamente após nosso retorno, revelei minha decisão para a congregação. Relutantemente, cortamos os laços que nos ligava àquele ministério, e fizemos planos de nos mudarmos para Eufaula, Oklahoma, onde outro amigo pastor tinha me oferecido um espaço para abrirmos o escritório da missão.
No último dia na igreja, preguei em lágrimas meu sermão de despedida. Quando o último adeus foi dito, e o último aperto de mãos, eu tranquei a porta e parei nos degraus. Eu senti a mão de Deus levantando o manto dos meus ombros. Deus estava liberando-me das obrigações para com aquela igreja, e para com as pessoas daquele lugar. Enquanto andava pela calçada de pedregulho do estacionamento, o mistério final do serviço cristão tornou-se real para mim.
Os pastores – como os missionários evangelistas – são colocados nos campos de colheita deste mundo por Deus. Nenhuma sociedade missionária, denominação, bispo, papa ou superintendente chama uma pessoa para tal serviço. Na missão Gospel for Asia, eu não teria a pretensão de ordenar e chamar os irmãos nativos, mas simplesmente ser um servo para aqueles a quem Deus já tinha escolhido e chamado para o Seu serviço.
Uma vez instalado em Oklahoma, procurei por aconselhamento dos líderes cristãos mais velhos, ouvindo ansiosamente qualquer um que pudesse nos dar um conselho. Fui a todo lugar, fiz questionamentos. Sabia que Deus tinha me chamado, e muitos dos conselhos que consegui era suicida e destrutivo. Descobri que tínhamos aprendido a maioria de nossas lições pela dolorosa tentativa e erro. A única maneira que nos levou a escapar de várias decisões desastrosas foi a minha teimosia e recusa em comprometer a visão que Deus nos tinha dado. Se alguma coisa se encaixava naquilo que Deus tinha me dito, então eu a considerava. Se não – não importa o quanto atrativa fosse – eu rejeitava. O segredo de seguir a vontade de Deus, eu descobri, é empacotar e rejeitar o bom pelo melhor de Deus.
Um pouco de sabedoria, contudo, faz sentido. Cada líder Cristão deverá ter isso encravado em seu subconsciente – “Não importa o que você faça, nunca se leve por demais a sério”. Paul Smith, fundador da Bible Translations on Tape – (Traduções da Bíblia em fitas)- foi o primeiro executivo a dizer isto para mim, e acho que é um dos melhores fragmentos de sabedoria que recebi.
Deus sempre escolhe as coisas tolas deste mundo para confundir os sábios. Ele mostra seu poder somente em favor daquele que Nele confia. Humildade é o lugar onde começa todo o serviço cristão.
Fonte: "Revolution in World Missions"
Autor: Dr. K.P. Yohannan
Tradução: Hermann & JeffQuevedo
Nenhum comentário:
Postar um comentário