Revolução em Missões Mundiais

Cap. 5
Uma Nação Adormecida na Escravidão

Religião, eu descobri, é um negócio multibilionário nos Estados Unidos. Conhecendo as igrejas, eu fiquei atônito com os pisos de carpete, mobiliário, sistemas de ar-condicionado e ornamentação. Muitas igrejas têm ginásios de esportes e departamentos que cuidam de uma intensa programação tendo muito pouco ou nada a ver com Cristo. As orquestras, corais, músicas “especiais” - e as vezes, até a própria pregação – pareciam para mim mais um entretenimento do que adoração.
Muitos crentes norte-americanos vivem isolados da realidade – não somente das necessidades dos povos além-mar, mas mesmo dos pobres em suas próprias cidades. No meio de tanta riqueza vivem milhões de pessoas em terrível pobreza, esquecidas pelos crentes que se mudaram para os subúrbios. Descobri que os crentes estão prontos a se envolverem em quase todas as atividades que pareçam espirituais, mas que os permita fugir às suas responsabilidades para com o Evangelho.
Uma manhã, por exemplo, eu folheava uma revista cristã contendo muitos artigos interessantes, histórias e reportagens de todo o mundo – a maioria escrita por líderes cristãos famosos no ocidente. Eu observei que esta revista oferecia admissão para 21 faculdades cristãs, seminários e cursos por correspondência; cinco diferentes traduções da Bíblia em inglês; sete conferências e retiros; cinco novos filmes cristãos; 19 comentários e livros para leitura devocional; sete programas cristãos de saúde ou de dieta; e cinco serviços para levantar fundos de campanha.
Mas não era tudo. Havia anúncios para todo o tipo de produtos e serviços: aconselhamento, serviços de capelania, cursos escritos, campanários para templos, robes para coral, cruzes para ornamentação de paredes, batistérios e aquecedores de água, camisetas, discos, fitas, agências de adoção, folhetos, poemas, presentes, clubes de livros e porta-canetas. Era tudo muito impressionante. Provavelmente nada disso estava errado em si mesmo, mas incomodou-me que uma nação pudesse dispor de tal luxúria espiritual enquanto 40.000 pessoas estavam morrendo por dia em minha pátria sem ouvir o Evangelho pelo menos uma única vez.
Se a riqueza da América me impressionou, a riqueza dos crentes impressionou-me muito mais. Os Estados Unidos da América têm cerca de 5000 livrarias cristãs, oferecendo uma variedade de produtos além da minha imaginação – e muitas livrarias seculares também oferecem literatura religiosa. Tudo isto enquanto mais de 4000 das quase 6500 línguas do mundo ainda estão sem uma simples porção da Bíblia, publicada em sua própria linguagem! Em seu livro My Billion Bible Dream, ( Meu Sonho de Um Bilhão de Bíblias ), Rochunga Pudaite diz, “Oitenta e cinco por cento de todas as Bíblias impressas hoje são em inglês, para nove por cento do mundo que lêem em inglês. Oitenta por cento das pessoas do mundo nunca possuíram uma Bíblia, enquanto os americanos têm em média quatro em cada residência.
Ao lado dos livros, muito mais de mil revistas e jornais cristãos florescem. Mais de 1500 estações radiodifundem o Evangelho vinte e quatro horas por dia, enquanto na maioria dos países, não têm nem mesmo a sua primeira estação de rádio cristã. Próximo de 2000 programas de rádio e TV são produzidos para crentes nos Estados Unidos, mas menos de 400 são produzidos para serem utilizados além dos oceanos.
A mais triste observação que fiz a respeito das atividades de comunicação religiosa no ocidente é esta: pouco se existe, é planejado para alcançar os não-crentes. Quase tudo é feito para entretenimento dos Cristãos.
Os Estados Unidos com suas 400.000 a 450.000 congregações ou grupos, é abençoado com mais de um milhão de evangelistas de tempo integral, ou um líder religioso de tempo integral para cada 230 pessoas da nação. Quanta diferença do resto do mundo, onde perto de três bilhões de pessoas ainda não estão alcançadas com Evangelho. Os povos não-alcançados, ou “povos-escondidos”, têm somente um missionário trabalhando para cada 500.000 pessoas, e há ainda 1.750 grupos culturais distintos no mundo sem uma única igreja entre eles para pregar o Evangelho. Estas são as multidões pelas quais Cristo derramou suas lágrimas, sofreu e morreu.
Uma das mais impressionantes bênçãos na América é a liberdade religiosa. Não somente os cristãos têm acesso à rádio e televisão, desconhecidos em muitas nações da Ásia, como também têm liberdade para encontros, evangelismo e imprimir literatura. Quão diferente de muitos países da Ásia onde a perseguição de cristãos pelo governo é comum e freqüentemente legalizada.
Tal era o caso no Nepal, onde até recentemente era ilegal mudar de religião, ou influenciar outros a fazê-lo. Os crentes freqüentemente eram aprisionados pela sua fé.
Um missionário nativo passou por 14 diferentes prisões entre 1960 e 1975. Ele gastou dez daqueles quinze anos sofrendo tortura e sendo ridicularizado por pregar o Evangelho para seu povo.
Sua provação começou quando ele batizava nove novos convertidos e foi preso por isso. Os novos convertidos, cinco homens e quatro mulheres, também foram presos, e cada um foi sentenciado a um ano de prisão. Ele foi condenado a cumprir seis anos por influenciá-los.
As prisões nepalêsas são típicas da Ásia – literalmente masmorras da morte. Cerca de 25 ou 30 pessoas são enjauladas dentro de um pequeno quarto sem ventilação ou condições sanitárias. O cheiro é tão ruim que os novatos quase sempre desmaiam em menos de meia hora.
O lugar para onde o Irmão P. e seus companheiros crentes foram enviados esta repleto de piolho e baratas. Os prisioneiros dormiam sobre o chão sujo. Ratos roíam seus dedos e pés durante a noite. No inverno não há aquecimento; no verão não ventila. Por comida, aos prisioneiros era fornecida uma xícara de arroz a cada dia, mas eles tinham que acender um fogo no chão para cozinhar. A cela estava constantemente cheia de fumaça já que não havia chaminé. Com tal dieta muitos ficavam seriamente doentes, e o mau cheiro de vômito se juntava aos outros odores de podridão. Miraculosamente, nenhum dos crentes ficou doente, nem mesmo um único dia durante todo o ano.
Depois de cumprir um ano da sentença, os nove crentes foram colocados em liberdade. Então as autoridades resolveram quebrar com o Irmão P. Eles tiraram sua Bíblia, acorrentaram-no pelas mãos e pelos pés, e forçaram-no através de uma pequena porta, para dentro de um minúsculo cubículo, previamente usado para guardar os corpos de prisioneiros mortos até que suas famílias viessem buscá-los. Na escuridão úmida e abafada, o carcereiro previu que ele perderia a sanidade em poucos dias. A nova cela era tão pequena que o Irmão P. não podia ficar em pé, ou mesmo se esticar no piso. Ele não podia fazer fogo para cozinhar, então outros prisioneiros deslizavam comida sob a porta para mantê-lo vivo.
Piolhos comeram sua roupa de baixo, mas ele não podia se coçar por causa das correntes, que rapidamente feriram seus pulsos e tornozelos até o osso. Era inverno, e ele congelou quase até a morte várias vezes. Na escuridão ele não sabia quando era dia ou noite, mas quando ele fechava os olhos, Deus o levava a ver as páginas do Novo Testamento. Mesmo que a sua Bíblia lhe tivesse sido tirada, ele era capaz de lê-la em total escuridão. Isto o sustentou enquanto durava a terrível tortura. Por três meses não lhe foi permitido falar a nenhum outro ser humano.
O Irmão P. foi transferido para muitas outras prisões. Em cada uma, ele continuamente compartilhava sua fé com os guardas e outros prisioneiros.
Apesar de entrar e sair de prisões, ele se recusava a formar igrejas secretas. “Como pode um crente manter-se em silêncio?” Ele perguntava. “Como pode uma igreja esconder-se? Jesus morreu publicamente por nós. Ele não tentou esconder-se no caminho para a cruz. Nós devemos proclamar Jesus corajosamente não importam as conseqüências”.
Vindo da Índia, onde eu fui espancado e apedrejado por causa da minha fé, eu sei o que é ser uma minoria perseguida em meu próprio país.
Quando pisei o solo do ocidente, eu pude sentir um espírito de liberdade religiosa. Os norte-americanos não sabem o que é o medo de perseguição. Nada parece ser impossível para eles.
Da Índia, eu sempre tinha visto a América do Norte como uma fortaleza da Cristandade. Com a abundância de coisas tanto espirituais quanto materiais, uma riqueza que ultrapassa a de qualquer outra nação na terra, e uma igreja totalmente desembaraçada, eu esperava ver uma testemunha intrépida, ousada. A Graça de Deus obviamente tem sido derramada sobre esta nação, e sobre esta igreja de uma maneira jamais experimentada por qualquer outro povo.
Ao invés disso encontrei uma igreja em declínio espiritual. Os crentes americanos ainda estavam liderando as ofertas para missões, mas isto se parecia mais com um acidente histórico do que das profundas convicções que eu esperava encontrar. Enquanto falava nas igrejas, e encontrava cristãos comuns, descobria que eles tinham terríveis preconceitos acerca do mandado missionário para a igreja. Nas reuniões que tínhamos nas igrejas, enquanto escutava o questionamento de meus anfitriões, e ouvia seus comentários a respeito do outros 2/3 do mundo, meu coração quase arrebentava de dor. Estas pessoas, eu sabia, eram capazes de fazer muito mais. Elas estavam morrendo espiritualmente, mas eu sabia que Deus queria lhes dar vida novamente. Ele queria recuperar o mandato moral, e o sentido de missão para Sua igreja.
Eu ainda não sabia como. Eu não sabia quando. Mas eu sabia uma coisa: Deus não faria chover tão grandes bênçãos sobre esta nação para os cristãos viverem em tamanha extravagância, no comodismo, e em vazio espiritual.
Pela fé, eu podia ver um reavivamento surgindo – o corpo de Cristo redescobrindo o poder do Evangelho e suas obrigações para com ele. Mas enquanto o tempo passava, tudo, o que eu fazia era sentir o quão errada era aquela situação – e orar. Deus não tinha me dado as palavras para descrever o que eu estava vendo – ou uma plataforma para falar. Ao invés disso Ele ainda tinha importantes lições para me ensinar, e eu estava para aprendê-las nesta terra estranha tão distante da minha amada Índia.


Fonte: Revolution in World Missions
Autor: Dr. K.P. Yohannan
Tradução: Hermann & JeffQuevedo

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