Revolução em Missões Mundiais

Cap. 3
As Sementes de Mudança Futura

Em 1971, eu fui convidado a passar um mês em Singapura em um novo instituto que tinha sido inaugurado por John Haggai. Estava ainda nos estágios iniciais – um local onde líderes da Igreja da Ásia seriam treinados e desafiados a testemunhar de Cristo.
Haggai era cheio de histórias. Em todas elas os Cristãos eram vencedores e gigantes – homens e mulheres que receberam uma visão de Deus e recusavam-se a abandoná-la. A diligência em atender ao chamado era uma virtude a ser altamente recompensada. Haggai foi a primeira pessoa que me fez acreditar que nada é impossível para Deus. E em Haggai eu encontrei um homem que se recusava a aceitar impossibilidades. Os limites normais aceitáveis não existiam para ele. Ele via tudo em termos globais e da perspectiva de Deus, recusando-se a aceitar o pecado. Se o mundo não foi evangelizado, por quê não? Se as pessoas estavam famintas, o que poderíamos fazer a respeito? Haggai não pensava como um Hindú – ele se recusava a aceitar o mundo como ele era. E eu descobri que ele estava disposto a aceitar a responsabilidade pessoal para tornar-se um agente de mudanças.
Aproximando-se o fim daquele mês no instituto, John Haggai desafiou-me à mais dolorosa introspecção que tinha experimentado. Agora eu sei, que aquilo implantou uma inquietude em mim que durou anos, e que eventualmente levou-me a deixar a Índia para procurar em terras longínquas pelo propósito de Deus para a minha vida.
O desafio de Haggai pareceu-me simples no início. Ele queria que eu fosse para meu quarto e escrevesse – em uma frase – a coisa singularmente mais importante que eu ia fazer com o resto da minha vida. Ele estipulou, que não deveria ser voltada para mim mesmo, ou de natureza secular. E mais uma coisa, para glorificar o nome de Deus. Eu fui para o meu quarto para escrever aquela sentença única. Mas a folha de papel permaneceu em branco por horas e dias. Perturbado por não poder alcançar o meu potencial total em Cristo, durante a conferência eu comecei a reavaliar cada parte do meu ministério. Eu deixei o congresso com a questão ainda soando aos meus ouvidos, e por anos eu continuei a ouvir a voz de John Haggai, “ Uma coisa... Pela graça de Deus, você deve fazer uma coisa...”.
Eu deixei Singapura renovado, livre para pensar em mim mesmo como um indivíduo pela primeira vez. Até aquela data – como muitos Asiáticos – eu sempre tinha visto a mim mesmo como parte de um grupo, como minha família ou equipe de evangelismo. Contudo eu não tinha idéia que trabalho especial Deus teria para mim como indivíduo, eu comecei a pensar em fazer o – meu melhor – para Ele. As sementes para uma transformação futura tinham sido plantadas, e nada poderia deter as tempestades que se aproximavam da minha vida.
Conquanto minha maior paixão era ainda as vilas não alcançadas do Norte, agora eu viajava por toda a Índia.
Numa destas palestras em 1973, fui convidado para ensinar na Conferência de Treinamento da Operação Mobilização de Primavera em Madras. Foi quando ví uma encantadora garota Alemã. Como aluna de uma de minhas aulas ela impressionou-me com a simplicidade de sua fé. Rapidamente eu me ví pensando que se ela fosse Indiana, seria o tipo de mulher com o qual gostaria de casar algum dia.
Uma vez, quando nossos olhos se encontraram, nós fitamos o olhar um do outro por um instante, por um momento, até que conscientemente quebrei o encanto e rapidamente deixei a sala. Eu ficava desconfortável em tais encontros masculino-feminino. Em nossa cultura, os solteiros raramente falam entre si. Mesmo na Igreja e em equipes de evangelismo, os sexos são mantidos estritamente separados.
Certo de que jamais voltaria a vê-la, eu afastei as idéias sobre a atrativa garota alemã para longe de minha cabeça. Mas o casamento estava em minha mente. Eu tinha feito uma lista com seis qualidades que eu desejava para uma esposa e, freqüentemente orava para que a escolha certa fosse feita para mim.
Naturalmente na Índia, todos os casamentos são arranjados pelos pais, e eu teria de confiar no julgamento deles na seleção da pessoa certa para companheira da minha vida. Eu ficava imaginando onde meus pais encontrariam uma esposa disposta a compartilhar meu estilo de vida itinerante, e comprometimento com o trabalho do evangelho. Mas quando a conferência terminou, os planos para todo verão rapidamente suplantaram estes pensamentos.
Naquele verão, junto com alguns co-obreiros voltei a todos os lugares que tinha visitado a poucos anos no estado do Punjab. Eu tinha entrado e saído do estado várias vezes e estava ansioso para ver os frutos do nosso trabalho de evangelismo ali.
O maior produtor de cereais da Índia, com sua população de 15 milhões é dominado pelos Sikhs, um povo trabalhador e muito independente, conhecido como uma casta de guerreiros.
Antes da separação da Índia e do Paquistão, o estado também tinha grande população de Muçulmanos. E permanece como uma das menos evangelizadas e mais negligenciadas áreas do mundo.
Nós tínhamos viajado de caminhão e pregado ao ar livre através de centenas de cidades e vilas nesse estado nos últimos dois anos. Apesar de que missionários britânicos tivessem fundado muitos hospitais e escolas, poucas congregações de crentes ainda existiam. O profundo nacionalismo dos Sikhs teimosamente se recusava a considerar o cristianismo porque eles o associavam rapidamente ao colonialismo Britânico.
Eu viajava com uma considerável equipe masculina. Uma equipe em separado de mulheres também foi escalada para aquele estado, a partir de Jullundur. No meu caminho para o Norte para juntar-me aos homens do grupo ao qual ia liderar, parei no centro de operações para o Norte da Índia em Nova Déli.
Para minha surpresa, lá estava ela novamente. A garota Alemã. Desta vez ela estava vestida com um sari, um dos mais populares modelos de vestido, característico de nossa nação. Eu fui informado que ela também tinha sido escolhida para trabalhar no Punjab no verão, com a equipe feminina.
O diretor local pediu-me para acompanhá-la em direção ao Norte o mais distante possível de Jullundur, então viajávamos na mesma Van. Eu descobri que seu nome era Gisela, e quanto mais a via, mais encantado me tornava. Ela comeu a comida e bebeu a água, e inconscientemente seguiu todas as regras da nossa cultura. Na pouca conversa que tivemos focamos em assuntos espirituais e nas aldeias perdidas da Índia. Eu rapidamente acreditei que, finalmente tinha encontrado minha alma-gêmea, que compartilhava minha visão e chamada.
O amor romântico, para a maioria dos indianos, é alguma coisa que você lê apenas em livros de estórias. Nos filmes ousados, enquanto eles freqüentemente tratam do assunto, são cuidadosos para terminar o filme de acordo com a maneira indiana apropriada. Então, tinha que encarar o grande problema de comunicar meu amor proibido e impossível. É claro que não disse nada para Gisela. Mas alguma coisa em seus olhos disse-me o que ambos entendíamos. Poderia Deus estar nos unindo?
Em poucas horas nós estaríamos separados novamente, e lembrava-me de que tinha outros afazeres. Além disso, eu pensei, no final do verão ela vai voar de volta para a Alemanha, e provavelmente, nunca mais a veria novamente. Durante o verão surpreendentemente, nossos caminhos voltaram a se cruzar. Cada vez sentia meu amor crescer fortemente. Por isso, arrisquei uma chance de expressar meu amor com uma carta.
Enquanto isso, as notícias do Punjab partia meu coração. Em aldeia após aldeia, eu descobria que nossa literatura e nossa pregação parecia ter causado muito pouco impacto. O fruto não tinha permanecido. A maioria das vilas que visitamos parecia tão analfabeta, idólatra e controlada por demônios como sempre. As pessoas ainda estavam aprisionadas pelas doenças, miséria e sofrimento. O evangelho, assim me pareceu, não tinha criado raízes.
Em uma cidade eu senti tão profundo desespero que literalmente sentei no meio-fio e chorei. Chorei lágrimas amargas como somente uma criança pode chorar.
- “Seu trabalho é inútil” – escarneceu um demônio ao meu ouvido. - “Suas palavras estão escorregando para longe deste povo, como água nas costas de um pato.”
Sem perceber, eu estava tendo um burnout – ou que quer que fosse era algo espiritual que estava acontecendo comigo. Eu caí numa tremenda apatia. Como Jonas e Elias, eu estava cansado demais para prosseguir. Eu só conseguia ver uma coisa. O fruto do meu trabalho não permanecia. Mais do que nunca, eu precisava de tempo para reavaliar meu ministério.
Meus companheiros de liderança, alarmados com a minha crise pessoal, e preocupados de que alguma coisa estivesse profundamente errada, insistiram comigo para tirar um mês de férias para me recuperar, então fui para Bombaim.
Enquanto estava fora, eu me correspondia com Gisela. Ela tinha retornado à Alemanha. Decidi que me afastaria por dois anos para estudar e fazer algumas escolhas a respeito do meu ministério e possível casamento.
Comecei escrevendo cartas para o exterior e fiquei interessado em freqüentar uma Escola Bíblica na Inglaterra. Também tinha convites para falar em Igrejas na Alemanha. Em dezembro comprei uma passagem planejando estar na Europa, para o Natal com a família da Gisela.
Foi quando senti os primeiros tremores do que rapidamente se tornaria um caso de choque cultural do tamanho de um terremoto. Quando a neve caiu, era óbvio para qualquer um que deveria comprar um casaco de inverno e botas – óbvio, é claro, exceto para mim. Uma olhada nos preços das etiquetas levou-me a um profundo trauma. Pelo custo de meu casaco e minhas botas na Alemanha, eu viveria confortavelmente por meses na Índia.
E este conceito de viver pela fé foi duro para os pais de Gisela aceitarem. Aqui estava esse pastor de rua pobretão da Índia, sem uma libra sequer, insistindo que estava indo para o seminário, que ele não sabia onde e, ainda assim, pedindo a filha deles em casamento.
Um a um, os milagres foram acontecendo, aliás, Deus supriu cada necessidade.
Primeiro chegou uma carta de E.A Gresham, um desconhecido de Dallas, Texas, que era, então, o diretor regional da Associação dos Atletas de Cristo. Ele tinha ouvido a meu respeito, de um amigo Escocês e convidou-me para vir aos Estados Unidos por dois anos de estudos no, então, Instituto Bíblico Criswell em Dallas. Eu respondi positivamente e embarquei num vôo de fretamento barato para Nova Iorque com o último dinheiro que tinha.
Este vôo, por sinal, também veio a tornar-se num milagre. Sem saber que eu precisava de um visto especial para estudante, comprei uma passagem sem direito a devolução. Se eu perdesse o vôo, eu perderia a ambos, minha reserva e a passagem.
Orando com meu último vintém de fé, pedi a Deus para intervir e de algum modo conseguir a papelada para o visto. Assim que orei, um amigo em Dallas, foi estranhamente movido por Deus para sair no seu carro, voltar ao escritório e completar minha papelada e pessoalmente colocar no correio. Em uma contínua série de coincidências divinamente arranjadas, os formulários chegaram a poucas horas do fim do prazo.
Antes de viajar para a América, Gisela e eu ficamos noivos. Eu iria para o seminário sozinho. Nós não fazíamos idéia de quando veríamos um ao outro novamente.


Fonte: Revolution in World Missions
Autor: Dr. K.P.Yohannan
Tradução: Hermann & JeffQuevedo

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