Revolution in World Missions

Cap. 2
“Ó Deus, faça de um dos
meus filhos um pregador!”


Os olhos de Achyamma ardiam com as lágrimas. Mas não era pelo fogo da cozinha ou pelo cheiro do tempero aquecido que subia da panela. Ela sabia que não tinha muito tempo. Seus seis filhos estavam crescendo rápido. E ainda nenhum deles mostrava sinais de entrar no ministério do evangelho.
Com exceção do mais novo – o pequeno “Yohannachan” como eu era conhecido – cada um deles parecia destinado ao trabalho secular. Meus irmãos pareciam satisfeitos em viver e trabalhar no nosso vilarejo de Niranam em Kerala sul da Índia.
“Ó Deus, - ela orava em desespero – permita que pelo menos um dos meus filhos pregue”. Como Ana, e muitas mães santas da Bíblia, minha mãe tinha dedicado seus filhos ao Senhor. Naquela manhã enquanto preparava o café, ela fez um voto de jejuar em segredo, até Deus chamar um de seus filhos para o serviço dEle. Cada sexta-feira, nos três anos e meio seguintes, ela jejuou. Sua oração era sempre a mesma.
Mas nada aconteceu. Finalmente, somente eu, pequeno e magricela – o caçula da família – fui deixado. Parecia haver pouca chance de ser um pregador. Apesar, de que com a idade de 8 anos eu ter me levantado durante o apelo numa reunião evangelística, eu era introspectivo e tímido e guardava a minha crença para mim mesmo. Eu não tinha nenhuma vocação para liderança, evitava esportes e obrigações escolares. Eu me sentia confortável à margem da vila, e da vida familiar, uma figura sombria que entrava e saia do palco quase sem ser notado.
Então, quando completei 16 anos as orações de minha mãe foram respondidas. Um grupo de evangelismo da Operação Mobilização visitou-nos, vieram à nossa Igreja para apresentar-nos o desafio – ir para o longínquo norte da Índia. Meu corpo de 45 quilos se esforçava para captar cada palavra, cada slide mostrado pela equipe, a respeito do Norte.
Eles falaram a respeito de apedrejamento e espancamentos que sofreram enquanto pregavam a Cristo em vilarejos não cristãos do Rajasthan e Bihar, nas quentes e áridas planícies do Norte da Índia. Isolados do contato com o restante da Índia pelos altos picos dos Gaths ocidentais, a lama das florestas de Kerala, na costa do Malabar era tudo o que o que eu conhecia da minha pátria. Na costa do Malabar tinha se desenvolvido a mais antiga comunidade cristã da Índia, iniciada com o florescimento do comércio através do Golfo Pérsico, quando São Tomé anunciou a Jesus Cristo. Próximo a Cranagore em 52 d.C. Outros Judeus também estiveram lá, tendo chegado duzentos anos antes. O restante da Índia parecia fora de alcance para o povo de fala Malayalam da costa sudoeste, e eu não era exceção.
Quando a equipe de evangelismo retratou a condição desesperadora dos perdidos no resto do país – 500.000 aldeias sem uma testemunha do evangelho do Senhor Jesus – Eu senti uma estranha compaixão pelos perdidos. Naquele dia eu fiz um voto para ajudar a levar as boas novas de Jesus Cristo para aqueles estranhos e misteriosos estados do Norte. Em resposta ao desafio de – esquecer tudo e seguir a Cristo – eu rapidamente abracei ao convite, concordando a me juntar a um grupo de estudantes para uma cruzada no verão em lugares ainda não-alcançados do Norte da Índia.
Minha decisão de tomar parte no ministério resultou grandemente das orações cheias de fé da minha mãe. Apesar que eu ainda não tinha recebido o que mais tarde vim a compreender ser o real chamado do Senhor para minha vida, minha mãe encorajou-me a seguir o meu coração. Quando anunciei minha decisão, ela silenciosamente deu-me 25 Rúpias, o bastante para a passagem de trem. Eu estava pronto para me inscrever no escritório da missão em Trivandrum.
Lá eu tive minha primeira decepção, fui rejeitado. Desde que eu era menor de idade, o diretor da missão recusou-se a deixar que me juntasse às equipes que iam para o Norte. Mas me foi concedido assistir a conferência anual de treinamento em Bangalore, Karnataka. Na conferência eu primeiro ouvi o testemunho do missionário George Verwer, que me desafiou como nunca antes a um comprometimento total, a uma vida imersa num discipulado radical. Eu estava impressionado como Verwer colocava a vontade de Deus para o mundo perdido antes de carreira profissional, família e a si mesmo.
Sozinho naquela noite em minha cama, eu questionei tanto a Deus quanto a minha própria consciência. Pelas duas da madrugada, meu travesseiro estava molhado de suor e lágrimas, eu tremia de medo. E se Deus me pedisse para pregar nas ruas? Seria capaz de ficar em pé e falar em público? E se fosse apedrejado e espancado?
Eu me conhecia muito bem. Dificilmente conseguia olhar nos olhos de um amigo durante uma conversa, imagine falar sozinho publicamente para uma multidão hostil às coisas de Deus? Quando falei estas palavras, percebi que estava me comportando como Moisés quando ele foi chamado.
Subitamente, eu senti que não estava sozinho naquele quarto. Um grande sentimento de amor e de ser amado encheu o lugar. Eu senti a presença de Deus e caí de joelhos ao lado da cama. “Senhor Deus”, eu balbuciei em completa rendição à sua presença e à sua vontade – “Eu me ofereço para falar por Ti - mas ajuda-me, a saber, que tu estás comigo”.
Naquela manhã eu acordei completamente diferente para o mundo e para as pessoas. Enquanto andava, as cenas das ruas Indianas pareciam as mesmas de antes – crianças corriam entre as pernas das pessoas, das vacas, porcos e galinhas perambulavam, vendedores carregavam cestas de frutas brilhantes e flores nas cabeças. Eu os amava com um amor sobrenatural e incondicional que nunca sentira antes. Era como se Deus tivesse removido meus olhos e substituído pelos olhos Dele, então eu podia ver as pessoas como o Pai Celeste as via – perdidos e carentes, mas com potencial para refletir a glória de Deus.
Eu fui até a Estação Rodoviária. Meus olhos se encheram de lágrimas de amor. Eu sabia que aquelas pessoas estavam indo para o inferno – eu sabia que Deus não queria que elas fossem para lá. Subitamente eu tive um anseio por aquelas massas, que eu tive de parar e encostar-me a uma parede para não cair. Era isto – eu estava sentindo o ardor que Deus sente pela multidão de perdidos da Índia. Seu coração de amor estava pulsando dentro de mim, eu respirava com dificuldade. A tensão era grande. Eu andava para frente e para trás inquietamente para evitar que os meus joelhos tremessem de pavor.
“Senhor!” – eu clamei – “Se Tu desejas que eu faça alguma coisa, diga-me e dá-me coragem”.
Abrindo os meus olhos depois da oração, eu vi uma grande pedra. Imediatamente eu sabia que tinha de subir naquela rocha e pregar para a multidão na rodoviária. Subindo rapidamente eu senti uma força, como se 10.000 volts de energia atravessasse o meu corpo.
Comecei cantando um simples corinho infantil. Era tudo o que eu sabia. Quando terminei uma multidão estava ali ao redor da pedra. Eu não tinha preparado nada para falar, mas o Senhor Deus me tomou totalmente e encheu minha boca com palavras do seu amor. Eu preguei o evangelho para os pobres como Jesus ordenou a seus discípulos. Com a autoridade e o poder de Deus fluindo através de mim, eu tinha uma audácia sobre-humana. As palavras vinham, palavras que eu não conhecia – e claramente com um poder vindo de cima.
Outros das equipes de evangelismo pararam para ouvir. O questionamento a respeito da minha pouca idade nunca mais foi levantado. Era o ano de 1966, e eu continuei viajando com grupos de evangelismo itinerantes por mais sete anos. Nós viajamos por todo o Norte da Índia, nunca ficando muito tempo em qualquer das aldeias. A todo lugar onde nós fomos, eu pregava nas ruas enquanto outros distribuíam livros e folhetos. Ocasionalmente, em pequenas vilas, nós testemunhávamos de casa em casa.
Meu urgente grande amor pelo povo dos vilarejos da Índia, e pelas massas de pobres cresceu com o passar dos anos. As pessoas mesmo me deram o apelido de – homem de Gandhi – comparando-me a Mahatma Gandhi, pai da moderna Índia. Como ele, eu compreendi que se a Índia fosse salva, o seria pelos missionários nativos de pele morena, que amavam os povos das aldeias.
Enquanto estudava os evangelhos, tornou-se claro para mim que Jesus entendia como ninguém, os princípios para alcançar os pobres. Ele evitava as cidades maiores, as mais ricas, mais famosas e as mais populosas, concentrando seu ministério na classe pobre de trabalhadores. Para alcançar a Índia e outras nações da Ásia, nós temos que alcançar os pobres.
Enquanto viajava, observando as conseqüências danosas das religiões pagãs na Índia, eu entendi que as multidões na Índia estavam famintas porque elas eram escravas do pecado. A batalha contra a fome e a miséria é verdadeiramente uma batalha espiritual, não é física ou social como o mundo secular nos faz acreditar.
A única arma que efetivamente vencerá a guerra contra a doença, fome, injustiça e miséria na Ásia, é o evangelho de Jesus Cristo. Olhar no fundo dos olhos tristes de uma criança faminta ou olhar uma vida destruída pelo vício das drogas é ver tão somente o domínio de Satanás sobre o mundo. Todas as coisas ruins são obras dele. Ele é o inimigo número um da humanidade, e ele fará tudo ao seu alcance para matar e destruir os seres humanos. Combater este inimigo poderoso com armas físicas é o mesmo que atacar um tanque de guerra com pedras.
Eu jamais esquecerei um dos encontros mais dramáticos que tivemos com este poder demoníaco. Era um dia excessivamente quente e úmido de 1970. Nós estávamos pregando no noroeste do Rajasthan – “o deserto dos reis”.
Como era nosso hábito antes de começar um culto ao ar livre, meus sete cooperadores e eu, ficávamos em círculo para cantar e bater palmas acompanhando o ritmo dos cânticos cristãos. Uma multidão de tamanho considerável ajuntou-se, e eu comecei a pregar em Hindi, a língua local. Muitos ouviram o evangelho pela primeira vez e ansiosamente tomaram nossos evangelhos e folhetos para ler.
Um jovem aproximou-se e pediu-me um livro para ler. Enquanto falava a ele, senti em meu espírito que ele tinha fome pelo conhecimento de Deus. Quando estávamos embarcando na nossa van de evangelismo, ele pediu para juntar-se a nós.
Enquanto dávamos a partida na van, ele clamou e gritou – “Eu sou um terrível pecador” – Ele gargalhou – “Como posso me sentar entre vocês?” – E preparou-se para saltar da van em movimento. Nós o agarramos e o prendemos contra o piso da van para evitar que se machucasse.
Naquela noite ele ficou conosco no nosso acampamento e na manhã seguinte juntou-se a nós para o culto de oração. Quando estávamos orando e intercedendo, nós ouvimos subitamente um grito agudo. O jovem estava jogado ao chão, a língua pendendo para fora da boca, e os olhos virados para trás.
Como crentes numa terra pagã sabíamos que ele estava possuído pelo demônio. Nos reunimos em torno dele e falamos com autoridade sobre as forças do inferno quando elas falavam através da boca do jovem.
“Nós somos 74, nos últimos sete anos nós o fizemos andar descalço por toda a Índia... Ele é nosso...” Eles falaram blasfemando e amaldiçoando, desafiando-nos e a nossa autoridade.
Mas quando três de nós orávamos, os demônios não mais prenderam o jovem. Eles saíram quando nós os expulsamos em Nome de Jesus.
Sundar John foi liberto, entregou sua vida a Jesus e foi batizado. Depois freqüentou a escola Bíblica por dois anos. Desde então o Senhor o tem capacitado a ensinar e a pregar para milhares de pessoas a respeito de Jesus. Várias Igrejas nativas indianas surgiram como resultado de seu notável ministério – tudo vindo através de um homem a quem muito pessoas teria trancado num asilo como insano. E há literalmente milhões de pessoas como ele na Índia – ludibriados pelos demônios e escravizados por terríveis emoções e sensualidade.
Este tipo de milagre me manteve indo de vila em vila por aqueles sete anos de evangelismo itinerante. Nossas vidas pareciam lidas do livro de Atos dos Apóstolos. Muitas noites nós dormíamos em valas à beira da estrada, onde estávamos relativamente seguros. Dormindo em vilarejos não-cristãos nos exporia a muitos perigos. Nossa equipe sempre criava uma agitação e algumas vezes tivemos que encarar apedrejamento e surras.
As equipes com as quais trabalhei – e freqüentemente liderava - eram como uma família para mim. Eu comecei a me encantar pelo estilo de vida cigano que vivíamos, e pelo total abandono à causa de Cristo que é requerido a um evangelista itinerante. Nós fomos perseguidos, odiados e desprezados. Mas continuamos, sabendo que estávamos abrindo caminho para o evangelho em distritos que jamais experimentaram um encontro com Cristo.
Uma dessas vilas foi Bhundi no Rajasthan. Este foi o primeiro lugar onde fui espancado e apedrejado por pregar o evangelho. Freqüentemente a literatura era destruída. Parecia que as turbas sempre estavam nos vigiando e por seis vezes nossos cultos nas ruas foram interrompidos. Nossos líderes começaram a trabalhar em outros locais, evitando Bhundi o quanto possível. Três anos depois, uma nova equipe de missionários nativos entrou na área sob diferentes lideranças e pregaram novamente nos cruzamentos apinhados das ruas da cidade.
Quase tão rapidamente quanto eles chegaram, um homem começou a rasgar a literatura, e agarrou um missionário de 19 anos de idade Alex Sam pela garganta. Mesmo espancado severamente, Sam ajoelhou-se na rua e orou pela salvação de almas daquela odiosa cidade.
“Senhor” – ele orou – “eu quero voltar aqui e servi-lo em Bhundi. Eu estou disposto a morrer aqui, mas eu quero voltar e servir a Ti neste lugar”.
Muitos líderes mais velhos aconselharam-no contra esta decisão, mas determinado, ele voltou e alugou um pequeno quarto. O carregamento com literatura chegou, e ele pregou apesar das muitas dificuldades. Hoje mais de 100 pessoas se reúnem numa pequena igreja. Aqueles que uma vez nos perseguiram, agora adoram ao Senhor Jesus, como na história do apóstolo Paulo.
Este é o tipo de comprometimento e fé que ganha as vilas do Norte da Índia para o Senhor Jesus.
Certa vez chegamos numa cidade ao romper do dia para pregar. Mas eles já tinham sido avisados da nossa chegada, por boatos oriundos da aldeia próxima, onde tínhamos pregado no dia anterior.
Quando estávamos tomando o chá matinal à beira da estrada, o líder militante local aproximou-se educadamente. Em voz baixa que dissimulava pouca emoção, ele falou:
- “Pegue seu caminhão, e saia da cidade em cinco minutos ou nós o queimaremos, e a vocês com ele”.
Eu sabia que ele estava falando sério. Ele estava acompanhado de uma multidão ameaçadora. Apesar de que realmente “sacudimos o pó de nossos pés” naquele dia, hoje uma igreja está congregando na mesma aldeia. Para implantar o evangelho, devemos aceitar riscos.
Uma vez, eu viajei por meses em estradas poeirentas no calor do dia, e tremendo através das noites frias – sofrendo exatamente como milhares de missionários nativos estão sofrendo até hoje, para levar o evangelho aos perdidos. Nos anos seguintes relembrei aqueles sete anos de evangelismo nas vilas, como uma das maiores experiências de aprendizado da minha vida. Nós andamos nos passos de Jesus, o encarnando e o representando para as multidões que nunca ouviram falar do evangelho.
Eu vivia numa frenética vida atarefada, por demais ocupada e excitante, com a proclamação do evangelho para pensar a respeito do futuro. Sempre existia outra campanha a frente. Mas eu tinha chegado a um ponto decisivo.

Fonte: Revolution in World Missions
Autor: Dr. K.P. Yohannan
Tradução: Hermann & JeffQuevedo

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